Rebeldes aceitam negociar com Governo do Sudão do Sul, mas combates continuam

Líder dos rebeldes afirma ter conquistado uma cidade petrolífera importante e garante que vai avançar para a capital.

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Exército do Sudão do Sul pode ter perdido o controlo sobre Bor Samir Bor/AFP

Após um encontro entre vários líderes de países da África Oriental na semana passada, o Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, afirmou estar disponível para declarar um cessar-fogo nos confrontos que já fizeram mais de mil mortos e 180 mil refugiados. Ao líder dos rebeldes, o ex-vice-Presidente, Riek Machar, foi dado um prazo até ao final do ano para mostrar a mesma abertura. A continuação dos combates pode dar azo a uma intervenção externa, como foi sugerido na segunda-feira pelo Presidente do Uganda.

O Governo do Sudão do Sul espera que as negociações se iniciem ainda esta terça-feira. A porta-voz da diplomacia, Dina Mufti, afirmou que Kiir e Machar têm encontro marcado para Addis-Abeba, capital da Etiópia.

Contudo, aquilo que foi manifestado por Machar, numa entrevista à AFP nesta terça-feira, foi a intenção de enviar uma delegação para as conversações, apenas para “discutir e conversar”, mas sem prometer o fim dos combates. O líder rebelde afirma mesmo que as suas forças estão a avançar para a capital, Juba, não havendo cessar-fogo “por agora”.

Riek Machar admite que não vai estar presente nas conversações, afirmando que “isso vai depender da forma" como estas "se passarem”. “Eu irei mais tarde, assim que as negociações chegarem a um cessar-fogo. Isso vai depender se e quando [o cessar-fogo] seja alcançado”, acrescentou.

A equipa que vai representar a facção de Machar será liderada por Rebecca Nyandeng Garang, a viúva de John Garang, o líder histórico da causa da independência do Sudão do Sul, morto em 2005.

O facto de a delegação ser encabeçada por uma personalidade da tribo dinka, maioritária no país e à qual pertence o Presidente, pode indicar um sinal de que a motivação primária para o conflito não é étnica, como observa o correspondente da BBC, James Copnall.

Incerteza no terreno
Em relação aos desenvolvimentos no terreno, os dados são ainda incertos. Os rebeldes afirmam controlar Bor, capital do Estado de Jonglei, importante por albergar largar reservas de petróleo. Por outro lado, o porta-voz do exército, Philip Aguer, desmentiu a informação defendendo que os combates “ainda não terminaram”.

A chegada dos combates a Bor causa preocupação, sobretudo pela presença nas fileiras dos rebeldes de uma milícia étnica conhecida como Exército Branco — os guerrilheiros cobrem a cara e o corpo com cinza para se protegerem da picada de insectos e do sol. Esta milícia aterrorizou os locais por onde passou durante a guerra contra o Sudão e mesmo após a independência, em 2011. Em 1991, o Exército Branco foi responsável por um massacre precisamente na cidade de Bor que causou pelo menos 2000 mortos.

O conflito no mais novo país do mundo começou a 15 de Dezembro, depois de um “desentendimento” entre guardas presidenciais, que Salva Kiir afirmou ser uma tentativa de golpe de Estado organizada por Machar. O ex-vice-Presidente — demitido em Julho — desmentiu a existência de qualquer golpe e acusou Kiir de tentar afastá-lo da corrida presidencial de 2015.

Não foi preciso esperar muito tempo até o conflito assumir contornos étnicos, num país altamente fragmentado. Grupos de nuer, uma tribo minoritária a que pertence Machar, têm enfrentado o exército, composto na sua maioria por dinkas, a tribo mais representativa do Sudão do Sul.

A possibilidade de uma guerra civil estalar no Sudão do Sul dois anos e meio após a independência fez soar os alarmes da comunidade internacional. No dia 25, a ONU aprovou o reforço do seu contingente, autorizando o envio de 6000 capacetes azuis. Dias depois uma cimeira entre vários líderes regionais preparou o terreno para um cessar-fogo, mas contou apenas com a promessa do Governo sul-sudanês.

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