As portas de Bruxelas continuam abertas para a Ucrânia, mas com condições

Comissário europeu diz que o Governo de Kiev tem de lidar com a crise política e económica de "forma transparente". Putin oferece a sua união aduaneira.

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Milhares de manifestantes continuam nas ruas a exigir a demissão do Governo e do Presidente Alexander Demianchuk/reuters

O que fazer perante os governantes de um país que parecem sentados no topo de um muro, sem se decidirem para que lado cair? A Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Catherine Ashton, regressou a Bruxelas após ter passado estes últimos dias em Kiev, em várias reuniões com os líderes da oposição e com o Presidente Viktor Ianukovich, para relatar a promessa feita pelo Presidente ucraniano de que ainda quer aderir ao acordo de comércio livre com a União Europeia, mesmo depois de a polícia de choque ter tentado obrigar os manifestantes que reclamam a associação à EU a sair das ruas. “Devo aceitar o que ele me diz”, disse Ashton, não muito confiante nas palavras de Ianukovich.

Ao fim do dia, Štefan Füle, o comissário europeu do Alargamento e Política de Vizinhança, que liderou as negociações para a assinatura do acordo de comércio com a Ucrânia, revelou ter falado também com os líderes da oposição, antes de falar com Arbuzov, e sublinhou que para a Ucrânia poder associar-se com a UE, o “processo tem de ser inclusivo e transparente”.

“A Ucrânia está a lidar com uma iminente crise económica e política, e tem de reforçar tanto a confiança dos seus cidadãos como dos investidores internacionais. Tem de resolver as suas necessidades financeiras de forma transparente, junto de instituições credíveis como o Fundo Monetário Internacional”, sublinhou Füle, estabelecendo as condições para se começar a desenhar “o mapa das estradas” para a assinatura do acordo de associação comercial com a União Europeia.

O vice-primeiro-ministro Arbuzov não contestou estas palavras – sublinhou apenas que o diálogo “não foi fácil”. Também não estabeleceu um calendário para a assinatura do acordo com Bruxelas – disse apenas que há ainda muito trabalho pela frente.

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, antes, no discurso do estado da nação, tinha feito a abordagem contrária. Falou de como a Ucrânia seria bem-vinda à união aduaneira em que já participam a Bielorrúsia e Cazaquistão. “Nós não impomos nada a ninguém, mas se os nossos amigos o desejarem, estamos prontos a trabalhar juntos.”

A Ucrânia tem sempre dito que o “não” dado a Bruxelas no fim de Novembro não significa que entraria imediatamente nesta união aduaneira. Mas a 17 de Dezembro, há uma reunião em Moscovo entre a Ucrânia e a Rússia, onde a oposição ucraniana diz que Ianukovich vai "vender o país", entrando para a união aduaneira russa a troco de descontos no fornecimento de gás natural que funcionarão como um crédito de que o país muito precisa.

Em Kiev, o jornal Ukrainska Pravda, dizia que o Partido das Regiões, no poder, está a preparar uma grande manifestação de apoio ao governo para este fim-de-semana. O jornal adianta que o Ministério do Interior está a preparar comida, alimentação e transporte para trazer para a capital 200 mil pessoas nos dias 14 e 15 de Dezembro.

A oposição planeia uma grande manifestação para domingo. “O objectivo principal é impedir o Presidente Ianukovich de se juntar à união aduaneira dirigida por Moscovo a 17 de Dezembro", explicou Arseni Iatseniuk, da oposição, à AFP.
 
 
 

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