África do Sul unida para lembrar Mandela
Domingo é dia de cerimónias e acções simbólicas, num país que começa agora um longo luto.
Nelson Mandela morreu na quinta-feira, aos 95 anos, na sua casa de Joanesburgo, depois de vários meses em estado crítico. A África do Sul decretou uma semana de luto pelo líder do movimento anti-apartheid.
Na igreja Regina Mundi, no bairro do Soweto, centenas de pessoas assistiram à missa esta manhã. A “igreja do povo”, como é conhecida, é um local especial: foi lá que decorreram muitas reuniões dos movimentos anti-apartheid. Hoje, a memória desses tempos está eternizada nos vitrais, onde Mandela aparece a discursar perante um mar de mãos, tal como no dia da sua libertação, em 1990.
Durante a cerimónia, o padre Sebastian Roussou lembrou a luz e a esperança que o “Pai da Nação” trouxe para a África do Sul e para o mundo, como relata o correspondente da BBC. “Madiba não duvidou da luz. Ele abriu caminho para um futuro melhor, mas não podia tê-lo feito sozinho”, disse o sacerdote.
O dia é de rezar por Mandela, mas também pelo futuro do país, onde as divisões ainda imperam. “Estamos a orar por ambos”, disse à Reuters Gladys Simelane, enquanto assistia à missa. “As pessoas estão a rezar para que haja uma mudança.”
Não muito longe, também no Soweto, o bispo Mosa Sono emocionava os milhares de presentes ao dizer “graças a Deus por Madiba”, ao mesmo tempo que a cara de Nelson Mandela aparecia num grande ecrã. Pelas paredes da igreja Grace Bible ressoavam as palavras do ex-Presidente dizendo “estou preparado para morrer”. “Estamos a celebrar a sua vida, não a lamentar a sua morte”, afirmava à BBC Tebeho Mahlope.
Em Joanesburgo, a igreja metodista de Bryanston recebeu o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, assim como familiares de Mandela, incluindo a sua ex-mulher, Winnie. “Devemos orar para não esquecer certos valores que Madiba defendeu, pelos quais lutou, pelos quais sacrificou a sua vida”, declarou Zuma. “Ele levantou-se pela liberdade, ele lutou contra aqueles que oprimiam os outros. Ele queria que todos fossem livres”, acrescentou o governante.
É à casa de Mandela em Houghton, nos arredores de Joanesburgo, que converge grande parte das pessoas. Trazem flores, cartazes, velas e fotografias para deixar no local, enquanto entoam cânticos de homenagem. Depois de o ter feito em vida, Mandela voltou a reunir a nação do “arco-íris” em torno da sua memória.
Espera-se para segunda-feira uma cerimónia de luto nacional no Estádio Soccer City, de 95 mil lugares, nos arredores de Joanesburgo. O corpo de Mandela ficará então durante três dias na capital, Pretória, antes de ser levado, no domingo, para um funeral de Estado em Qunu, aldeia onde cresceu e onde sempre disse que queria ser enterrado.