Cavaco vai representar Portugal nas cerimónias fúnebres de Mandela

Presidente da República diz que posição de Portugal sobre Mandela "foi sempre clara" e critica os que "nunca mexeram uma palha para tentar mudar a situação na África do Sul".

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Cavaco Silva vai estar presente no funeral de Nelson Mandela Enric Vives-Rubio

Na sexta-feira foi agendada uma reunião extraordinária no Parlamento para segunda-feira, às 12h, com um único ponto na agenda: o de “dar o assentimento” à viagem de Cavaco Silva, de acordo com a página do Parlamento na internet.

O funeral vai decorrer na aldeia do ex-Presidente, Qunu, tal como era seu desejo, e vai ser organizado pelo Governo sul-africano, pelo Congresso Nacional Africano (partido no poder) e pela Igreja Metodista, à qual pertence a família de Mandela. Mas antes disso, as primeiras cerimónias vão ter início a 10 de Dezembro, no Estádio Soccer City, no Soweto, e será nestas que marcará presença o Presidente português, Cavaco Silva, bem como uma longa lista de personalidades de largas dezenas de países.

Cavaco Silva aproveitou este sábado para garantir que a posição de Portugal relativamente ao pedido de libertação de Nelson Mandela, votado em 1987, "foi sempre clara, do princípio ao fim", e que apenas foi recusada a luta armada.

"Penso que o nosso embaixador seguiu aquilo que era a prática portuguesa, que era recusar a luta armada, tendo presentes os 400 mil portugueses que estavam na África do Sul, a guerra civil em Angola, a guerra civil em Moçambique e o que seria incendiar de guerras toda a África Austral", disse aos jornalistas em Viseu o Presidente.

Cavaco Silva criticou aqueles que "falam de cátedra, mas nunca conheceram Nelson Mandela". "Penso que alguns nunca mexeram uma palha para tentar mudar a situação na África do Sul", frisou. Segundo o Presidente da República, Portugal "apenas recusou a luta armada, e não mais do que isso", sendo o resto "manobras políticas internas" que lamenta.

Lembrou que Portugal aderiu à União Europeia em 1986 e foi ele que participou em todos os Conselhos Europeus até 1995 e não "esses que agora falam". "Participei pelo menos numa dezena de Conselhos Europeus em que se discutiu a situação na África do Sul e o apelo para a libertação de Mandela e outros presos políticos. E a posição de Portugal foi sempre clara, do princípio ao fim: nós exigimos a libertação dos presos políticos, queremos o fim do apartheid, mas não queremos a luta armada", contou.

Durante a próxima semana vão estar na África do Sul líderes de todo o mundo, numa escala sem precedentes. O Guardian compara o evento a outros funerais como o do Papa João Paulo II, do ex-Presidente dos EUA John F. Kennedy, da princesa Diana ou do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill.

O Presidente dos EUA, Barack Obama e dois dos seus antecessores já confirmaram a presença nas cerimónias fúnebres. “O Presidente Obama e a primeira-dama irão à África do Sul na próxima semana para prestar homenagem a Nelson Mandela e participar na cerimónia em sua memória”, revelou na sexta-feira o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, citado pela AFP. George W. Bush e Bill Clinton são os dois ex-Presidentes norte-americanos que também confirmaram presença no funeral de Mandela. Bush e a mulher, Laura, vão viajar no Air Force One, o avião oficial do Presidente, a convite de Obama.

Bill Clinton, cujo mandato coincidiu com a presidência de Mandela, será acompanhado da mulher e ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, mas não adiantou como se vai deslocar para a África do Sul. “Toda a nossa família vai” ao funeral, confirmou Clinton à CNN. “Não faltaria por nada deste mundo. Serei apenas uma pessoa entre outras”, acrescentou o ex-Presidente. Mandela “era um verdadeiro amigo e um colega formidável quando era Presidente”, lembrou Bill Clinton.

Do Reino Unido são esperados os príncipes Carlos e o filho William em representação da Casa Real britânica, bem como do primeiro-ministro, David Cameron, de acordo com o Guardian, apesar de ainda não haver qualquer confirmação.

Nelson Mandela, de 95 anos, morreu na quinta-feira na sua casa de Joanesburgo, depois de vários meses em estado crítico por doença respiratória. “Vamos trabalhar juntos para organizar o funeral mais digno para este filho excepcional do nosso país e pai da nossa jovem nação”, anunciou o Presidente sul-africano, Jacob Zuma.
 

 
 

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