O consenso, esse estranho objecto do desejo

O debate do OE prova que o país político vive em estado de consenso interrompido.

O encerramento do debate do Orçamento do Estado para 2014 veio demonstrar como o país político (ou parte dele) vive em estado de consenso interrompido. De 26 medidas apresentadas pelo PS, os partidos que apoiaram o Governo aprovaram apenas três – e em duas delas, a maioria tinha propostas idênticas. Apenas quanto à aproximação dos preços do gás natural à bilha de gás se consumou essa afinal de contas minimal apetência pelo consenso. Para encerrar esta anedotário estatístico, refira-se que comunistas e bloquistas apresentaram respectivamente 156 e 96 propostas das quais… uma foi aceite pela maioria. Em contrapartida, quase todas as 135 propostas apresentadas pelo PSD e pelo CDS no Parlamento foram adoptadas. Estamos conversados?

A única verdade, portanto, é que o consenso, se não é um lugar mal frequentado, é certamente um lugar pouco frequentado. E vale a pena dizer que entre as propostas rejeitadas pelo Governo estava a da taxação das Parcerias Público-Privadas, que PSD e CDS pretendiam ver a contribuir excepcionalmente para o esforço do ajustamento, um desejo que, no entanto não comoveu o Governo. Fosse pela via do PS, fosse pela via dos partidos da maioria. Valha-nos portanto a bilha do gás. Mas antes que socialistas e Governo comecem a rasgar as vestes em nome da honra perdida do consenso, no debate final do OE, marcado para esta quarta-feira, vale a pena pedir que não percam muito tempo. Ou assumem as diferenças ou fazem acordos. Brincar aos consensos é que não vale a pena.
 
 
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar