Apesar do cepticismo, EUA vão analisar plano russo sobre arsenal químico sírio
Iniciativa de Lavrov foi bem acolhida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros sírio. ONU avança com proposta semelhante
“Fizemos chegar uma proposta ao ministro [dos Negócios Estrangeiros] Walid al-Moualem e esperamos uma resposta positiva muito em breve”, indicou Lavrov, no fim de um encontro com o governante sírio em Moscovo.
Segundo a agência de notícias russa RT.com e a Associated Press, a proposta de Lavrov prevê a “transferência do controlo” do arsenal químico do Exército sírio para as mãos de monitores internacionais e a sua “subsequente destruição”. A Rússia apelou ainda que a Síria ratifique a convenção internacional que proíbe a produção, armazenamento e uso de armas químicas.
Reagindo ao anúncio do Kremlin, um conselheiro do Presidente dos Estados Unidos disse à AFP que a Casa Branca ainda está a aguardar que os termos da proposta russa sejam esclarecidos pelos canais diplomáticos. Ben Rhodes manifestou a total abertura de Washington para discutir a ideia da entrega e destruição do arsenal químico sírio, mas avisou que não vai abrandar a sua pressão sobre o regime de Bashar al-Assad.
“Não sabemos se a Síria vai concordar, mas estamos preparados para começar a trabalhar imediatamente com Damasco para o estabelecimento de uma supervisão internacional que permita evitar o ataque ao país”, garantiu o ministro russo. Mas os americanos querem certificar-se que não se trata de uma manobra dilatória.
Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, confirmou que o Presidente Obama está disposto a analisar a proposta russa, mas também sublinhou que Administração norte-americana está céptica quanto à rapidez da resposta do ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, que acolheu positivamente a ideia de Lavrov.
Vários responsáveis norte-americanos insistiram na ideia de que é necessário, no entanto, manter a pressão sobre o regime de Assad e já na quarta-feira o Senado americano vai proceder à primeira votação para iniciar a discussão da proposta de ataques selectivos à Síria
Em Londres, o primeiro-ministro britânico David Cameron considerou “particularmente bem-vindo” o apelo feito pelos russos à Siria, considerando que se Damasco aceitar colocar o seu arsenal químico sobre controlo internacional isso “será um grande passo em frente”. Mas Cameron também sublinhou que tudo pode não passar de “uma manobra de diversão” para travar a retaliação dos EUA.
Em declarações à Reuters, o ministro sírio agradeceu o empenho de Moscovo na negociação de uma solução para a crise, sem, contudo, indicar qual seria a resposta de Damasco à proposta enunciada por Lavrov. “Em nome da República Árabe da Síria, agradeço a iniciativa da Rússia e manifesto a minha confiança na capacidade dos líderes russos para prevenir a agressão americana contra o nosso povo”, disse o governante.
Numa conferência de imprensa em Londres, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já tinha especulado que a intervenção contra o regime de Damasco que está a ser planeada pelos Estados Unidos poderia ser travada se o Presidente Bashar al-Assad “disponibilizasse as suas armas químicas à comunidade internacional já esta semana”. Mas Kerry acrescentou que “não há nenhuma indicação de que [Assad] aceite fazer isso” – e mais tarde a porta-voz do Departamento de Estado precisava que a sugestão avançada em resposta aos jornalistas era um “argumento retórico” e não uma proposta oficial e muito menos um ultimato dirigido ao Presidente sírio.
ONU também avança
Em Nova Iorque, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, defendeu a criação, na Síria, de zonas supervisionadas pela ONU onde as armas químicas seriam desmanteladas. Em declarações aos jornalistas, Ban disse que apresentará essa proposta ao Conselho de Segurança se os investigadores da organização confirmarem a utilização de armas proibidas na guerra que se trava há dois anos e meio na Síria. Isso, acrescentou, poderá ultrapassar a “embaraçosa paralisia” do Conselho quanto ao conflito.
Ban congratulou-se com a proposta russa e disse que a Síria deve aceitá-la pois haverá, nesse caso, “uma acção rápida” da comunidade internacional para assegurar que os arsenais de armas químicas serão destruídos. Claro, sublinhou o secretário-geral, que a Síria “tem que dar o seu acordo” a este plano.
As três propostas de resolução contra a Síria discutidas no Conselho de Segurança foram bloqueadas pela Rússia e a China, que têm poder de veto.