Kerry diz que Assad evitaria ataque se entregasse armas químicas
Secretário de Estado dos EUA não acredita que esse cenário seja provável.
Com os olhos postos no Congresso norte-americano, que regressa ao trabalho nesta segunda-feira com a aprovação de um ataque militar à Síria no topo da agenda, a diplomacia tanto dos Estados Unidos, como dos seus aliados e rivais, trabalha com um calendário apertado. Em Londres, onde se reuniu com o seu homólogo britânico, William Hague, Kerry repetiu os argumentos a favor de uma intervenção militar que tem proferido desde que, no dia 26, assegurou que o regime sírio não ficaria impune pelo uso de armas químicas, que Washington e as secretas de três países europeus (França, Grâ-Bretanha e Alemanha) imputam ao Presidente sírio.
Quando questionado por um jornalista sobre se havia algo que Assad pudesse fazer para evitar um ataque, o secretário de Estado norte-americano respondeu: “Claro, ele podia entregar cada uma das suas armas químicas à comunidade internacional na próxima semana – entrega-las, todas e sem demora e permitir a sua total e completa verificação, mas não está prestes a fazê-lo”.
Numa entrevista à cadeia americana CBS, que será hoje transmitida na íntregra, o Presidente sírio afirmou que Washington, apesar de todas as acusações, não tem provas de que ele ou alguém do seu Governo tenha ordenado os ataques de 21 de Agosto contra subúrbios a leste e sudoeste de Damasco.
A Administração Obama diz ter reunido vários indícios – incluindo escutas telefónicas entre responsáveis militares – que lhe permitem ter “elevada confiança” de que foi o Exército sírio a usar os químicos que mataram centenas de civis e Kerry foi nesta segunda-feira um pouco mais longe nos argumentos, ao dizer que “Bashar al-Assad, o seu irmão, Maher al-Assad, e um general são as únicas três pessoas que têm controlo sobre o movimento e uso de armas químicas”.
“As armas químicas são controladas de forma muito apertada pelo regime”, sublinhou o chefe da diplomacia, acrescentando que “altos responsáveis foram interceptados a dar instruções e a envolverem-se nos preparativos”. Maher al-Assad é comandante da Guarda Republicana e da Divisão Blindada, unidades de elite do Exército controladas pelos alauitas, a minoria religiosa a que pertence o Presidente.
Moscovo repete avisos
Na outra ponta da Europa, o ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid Mouallem, era recebido pelo seu homólogo russo, Sergei Lavrov. No final assegurou que, apesar da ameaça de uma intervenção, Damasco “continua disponível a participar sem condições” na reunião de Genebra – encontro internacional acordado há meses entre Moscovo e Washington, mas que foi sucessivamente adiado por desacordos entre as partes, e parece agora posto de parte.
“Estamos também disponíveis para dialogar com todas as forças políticas sírias que queiram o restabelecimento da paz no nosso país”, acrescentou o representante sírio, antes de advertir que esta posição mudará no caso de um ataque.
Lavrov disse também acreditar que “uma solução política é ainda possível” e subiu um pouco mais o tom dos avisos a Washington: “Cada vez mais políticos e responsáveis governamentais partilham a nossa opinião de que um cenário de [utilização da] força conduzirá a uma explosão do terrorismo na Síria e nos países vizinhos e um enorme afluxo de refugiados”.