Apenas um dos activistas que filmaram os vídeos do ataque químico sobreviveu
Recolha de informação levou a que a maioria inalasse os gases e acabasse por morrer. Os vídeos ganharam uma importância inaudita nesta guerra.
Mas os activistas locais que os filmaram – e que conseguiram, nota a revista Foreign Policy, num curto espaço de tempo o que a oposição vem a tentar há meses; dispor actores internacionais a um ataque contra o regime de Bashar al-Assad – terão pago um preço alto. Apenas um sobreviveu.
A activista Razan Zeitouneh contou à Foreign Policy que duas equipas correram para o subúrbio de Damasco mal houve notícia de um ataque, uma do seu centro de documentação de violações e outra do comité de coordenação local. “Os ataques químicos, no primeiro dia do massacre, mataram muitos activistas de media porque inalaram os gases tóxicos”, conta o único sobrevivente, Mudar Abu Bilal. “Foram filmar e recolher informação, mas nenhum deles voltou.”
Os vídeos deixaram várias pistas para o facto de se ter tratado de um ataque químico. Havia os sintomas das pessoas, as pupilas constritas, espasmos e dificuldade em respirar: sinais clássicos de exposição a gás sarin. Havia restos de rockets, quase intactos: se levassem explosivos e não carga química, estariam mais danificados com o impacto.
No terreno, há uma rede de pessoas a trabalhar com equipamento – na maioria, uma câmara e um computador portátil – e acesso à Internet. A maioria das cidades controladas pelos rebeldes têm ligações à Internet via satélite.
O apoio de activistas fora do país é vital: no dia do ataque, os activistas que filmaram deixaram o material numa dropbox, programa de partilha de ficheiros pesados, e os activistas fora trataram-nos, traduziram e colocaram-nos no YouTube.
Os vídeos servem os objectivos de propaganda dos dois lados – também o regime beneficiou da imensa atenção dada a imagens que mostravam alegadamente um rebelde a comer o coração de um soldado leal a Assad.E também quem procura informação sobre o conflito.
Jeff White, que trabalhou nos serviços secretos durante 34 anos e é agora investigador do Washington Institute for Near East Policy, diz que os vídeos começaram a ser fonte de informação para os analistas militares e dos serviços secretos, mas só com a Síria ganharam um papel mais relevante. “Não me consigo lembrar de outro caso semelhante – costumávamos ter de enviar agentes ou forças de reconhecimento para ter este tipo de dados”, nota.
Claro que é preciso ter algumas coisas em consideração, diz White: nos vídeos dos ataques de 21 de Agosto, por exemplo, as imagens eram sobretudo de mulheres e crianças, que terá sido provavelmente resultado da tentativa de ganhar mais simpatia. E, termina a Foreign Policy, “se o Exército dos EUA agir contra Assad, parte da razão será obra destas almas corajosas que correram em direcção a um ataque de armas químicas, quando toda a gente estava a tentar fugir”.