Generalíssimo do Egipto diz que o seu país "não se vergará" perante os islamistas

Irmandade Muçulmana desconvoca algumas manifestações "por motivos de segurança". General Abdel Fattah al-Sissi consolida poder.

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Apoiantes do golpe com cartaz do general Sissi Amr Abdallah Dalsh/REUTERS

Houve manifestações no Cairo, mas mais pequenas e longe do centro, ocupado pelos blindados do exército. A televisão estatal e a imprensa pró-governamental alinham com a mensagem do governo interino, tutelado pelos militares, dando por vencida a Irmandade Muçulmana e a sua “conspiração terrorista”. Uns e outros acusam também os jornalistas estrangeiros de olharem apenas para os manifestantes mortos e ignorarem os ataques atribuídos aos apoiantes da Irmandade.

E com mais de mil islamistas detidos só nos últimos dias, é mais fácil encontrar nas ruas quem esteja disposto a sair em defesa do Exército, do que a afirmar-se como apoiante de Mohamed Morsi, o Presidente deposto a 3 de Julho. “Temos o apoio do povo”, dizia à Reuters um oficial das forças de segurança que não quis ser identificado, assegurando que “todos os egípcios vêem a Irmandade como uma organização sem futuro como força política”. Uma confiança que explica a indiferença dos militares aos apelos à contenção.

Ao fim da tarde surgiram notícias de que 38 membros da Irmandade Muçulmana teriam morrido num motim numa prisão. A notícia não foi confirmada, e circula uma versão alternativa desta história: estes mortos teriam sufocado num carro prisional sobrelotado, devido ao uso de gás lacrimogénio, disse à Reuters uma fonte ligada aos serviços de segurança. Mais tarde ainda, uma nova versão, esta da agência estatal Mena: que os detidos teriam tentado evadir-se durante a sua transferência de uma prisão do Cairo para uma prisão nos subúrbios, e que a carrinha teria sido atacada por homens armados.

O general Abdel-Fattah al-Sissi tornou claro que os episódios de violência não o farão recuar. “Quem quer que imagine que a violência vai fazer ajoelhar o Estado e os egípcios terá de rever a sua posição. Jamais ficaremos silenciosos perante a destruição do país”, garantiu.

Ontem, assegurou que “há espaço para todos no Egipto” e convidou os “apoiantes do antigo regime” a participarem na prometida “reconstrução da via democrática”. Mas deixou de fora o movimento islamista, cuja ilegalização está a ser ponderada pelo governo interino, e acrescentou: “Não ficaremos impávidos perante os que destroem e incendeiam o país, aterrorizam as pessoas e dão à imprensa ocidental a imagem errada de que há combates nas ruas”.

O chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa nada mais disse sobre o repúdio que vinha de todos os lados do Ocidente perante os mais de 600 mortos da violência de quarta-feira – balanço que os novos confrontos na sexta-feira e sábado elevaram para mais de 800.

A União Europeia (UE) anunciou que vai rever nos próximos dias as relações que mantém com o Egipto, através de um comunicado conjunto dos presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, Van Rompuy e Durão Barroso. Sublinham que a UE vai manter firme o seu empenho na “promoção do fim da violência, retoma do diálogo político e retorno a um processo democrático”.

Van Rompuy e Durão Barroso apelam ao "máximo de contenção", sublinhando que é da responsabilidade das autoridades interinas e do Exército pôr fim aos confrontos. "A violência e as mortes dos últimos dias não podem ser justificadas ou toleradas. Os direitos humanos devem ser respeitados e mantidos. Os prisioneiros políticos devem ser libertados", defende a nota de Bruxelas.

“Para esse efeito, e em conjunto com os Estados-membros, a UE vai rever com urgência, nos próximos dias, as suas relações com o Egipto e adoptar medidas destinadas a alcançar esses objectivos”, afirma a nota. 

Nos Estados Unidos multiplicam-se também os apelos a que seja suspensa a ajuda ao Egipto – o mais forte elemento de pressão sobre os militares, pois a maior parte do apoio, que se eleva a 1550 milhões de dólares anuais, traduz-se em apoio militar (1300 milhões de dólares).

Um dos políticos que está a apelar ao corte das ajudas é o senador John McCain, que inicialmente alinhou com a inibição da administração Barack Obama em condenar o golpe que afastou do cargo Mohamed Morsi, o primeiro Presidente democraticamente eleito – mas cuja governação, de forte pendor islamista, estava a deixar descontente uma grande fatia da população.

“Queria dar [aos líderes militares do Egipto] uma oportunidade de fazer as coisas bem depois do golpe”, explicou McCain este domingo no programa State of the Union da CNN. Mas após a violenta acção das autoridades contra os acampamentos no Cairo da Irmandade Muçulmana na quarta-feira, em que morreram mais de 600 pessoas, mudou de opinião. “Ficarmos aqui sentados a ver sem fazer nada é uma violação de tudo aquilo em que acreditamos”, afirmou.
 

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