Especialistas pedem o fim da utilização abusiva de um célebre índice de impacto científico
Criado para avaliar a qualidade das revistas especializadas, o "factor de impacto" científico tem vindo a servir cada vez mais para avaliar a qualidade do trabalho dos próprios cientistas. Isso tem de acabar, declaram os signatários de um manifesto tornado público há dias.
O JIF, calculado com base no número de vezes que cada artigo de uma dada publicação especializada é citado noutros artigos, foi inventado nos anos 1950 para permitir que as bibliotecas avaliassem a importância das revistas científicas e pudessem assim escolher que revistas assinar. Hoje em dia, os JIF são calculados pela empresa Thomson Reuters.
Mas o problema é que estes índices têm vindo cada vez mais a serem utilizados para um fim que não o original. Aliás, ainda segundo a Nature, a própria Thomson Reuters tem alertado para o facto de que os JIF não medem a qualidade científica de um dado artigo de uma revista isolado do resto, mas antes a reputação global dessa revista na sua área.
“Nós, comunidade científica, somos responsáveis por esta confusão toda, nós é que gerámos a percepção segundo a qual quem não publica na Cell, na Nature ou na Science nunca vai arranjar emprego”, diz Stefano Bertuzzi, director executivo da Sociedade Americana de Biologia Celular, que coordenou a elaboração do manifesto, conhecido como Declaração de San Francisco sobre a Avaliação da Investigação Científica, ou DORA. “Está na hora de a comunidade científica assumir o controlo do problema.”
O documento enumera 18 recomendações, dirigidas a financiadores, instituições, cientistas, editores e empresas fornecedoras de índices de impacto científico.