Ondjaki ficou satisfeito com esta nova distinção vinda do Brasil. “Fico contente. Por mim e por Angola. Ainda vivo essa fase de que partilho os meus prémios com o meu país ou com as crianças do meu país. É a segunda vez que sou distinguido com este prémio, e a emoção é a mesma. Emoção e honra. É bonito ver um livro angolano chegar a outras culturas”, disse ao PÚBLICO via email, a partir de Angola.
A história parte da ideia de um concurso da Rádio Angola que iria oferecer uma bicicleta à criança que escrevesse a melhor redacção. “Mas isso é só uma desculpa”, disse o autor ao programa Ler+, Ler Melhor no início do ano passado (http://www.youtube.com/watch?v=XUUW7Fs9R8o). “A história é sobre a fantasia, a amizade e o acto da escrita”, acrescentou. São três crianças da mesma rua que procuram “o tio Rui” para as ajudar a redigir os textos para o concurso. Ele “é escritor e inventa estórias e poemas que até chegam a outros países muito internacionais”. Os bigodes da bicicleta (o guiador) fazem mesmo lembrar os dele.
Uma das crianças confessa às outras que não conseguiu fazer a redacção, mas escreveu uma carta. E levou-a à Rádio Angola. Ondjaki foca-se mais na busca do objectivo do que no sucesso. Por isso, quando fala na história, diz que as crianças ao longo do livro “vão desconseguindo”. Mas não se pense que é uma narrativa triste. O autor descreve-a assim: “É feliz, bonita, em torno da amizade, da criatividade. E não só entre as crianças, mas entre as crianças e os mais velhos.”
Ainda que haja universos comuns entre a sua infância e aqueles que busca nos seus trabalhos, este livro, diz o autor, é “o menos autobiográfico”. Mesmo se na sua própria história há uma rua de Angola, três crianças, uma avó, um escritor. “Eu vi tudo isso.”
No final, uma dedicatória: “O corpo deste texto é um abraço de amizade e de saudade: ao Luís Bernardo Honwana – esta minha Isaura é em homenagem à tua…; obrigado pela tua voz, pelo Cão Tinhoso, pelos olhos da tua Isaura; e ao Manuel Rui – tu sabes: (quase) todos nós, dos anos 80, somos um pouco a ficção e a realidade do teu Quem me Dera Ser Onda; obrigado pelo teu olhar também, em voz de contar e de dizer as nossas brincadeiras de rua, mais as estigas nas bermas da nossa língua toda desportuguesa...”
A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil é a secção brasileira do International Board for Young People (IBBY) e atribui prémios desde 1975. O autor já tinha sido distinguido em 2010 na categoria romance, com Avó Dezanove e o Segredo do Soviético, também editado pela Caminho. “É um prémio de prestígio. Há uma comissão muito diversificada de leitura e avaliação. E são pessoas muito generosas que o fazem voluntariosamente”, escreveu Ondjaki na noite de quarta-feira.
Na categoria escritor revelação, a fundação distinguiu a escritora Tatiana Salem Levy, brasileira de ascendência portuguesa, que publicou o livro Curupira Pirapora, com ilustração e trabalho gráfico de Vera Tavares.
O livro, que remete para o folclore nacional brasileiro, recuperando a figura do Curupira – protector das florestas brasileiras –, foi editado em 2012 pela Tinta da China.
Notícia actualizada às 00h45 com declarações de Ondjaki, a partir de Angola.