“Tu vais acabar preso”, disse vice-presidente do Benfica a Vale e Azevedo. E tinha razão

Sessão desta terça-feira do julgamento marcada pelo depoimento de Botelho da Costa. Alegações finais marcadas para 4 de Junho.

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João Vale e Azevedo está a cumprir pena na prisão da Carregueira Daniel Rocha

Botelho da Costa contou nesta terça-feira em tribunal – num julgamento destinado a apurar se Vale e Azevedo ficou com os mais de quatro milhões de euros que o Benfica ganhou na altura com a venda dos passes de vários jogadores – que as suas desconfianças foram quase imediatas.

Década e meia depois de ter passado pelo Estádio da Luz, o antigo presidente dos “encarnados” cumpre prisão na Carregueira por variados crimes de colarinho branco, entre os quais burla, peculato e falsificação de documentos. Foi condenado a cinco anos e meio, pena que verá aumentar se for condenado no julgamento que está a decorrer em Lisboa. As alegações finais foram esta terça-feira marcadas para o próximo dia 4 de Junho, seguindo-se depois a leitura do acórdão.

Entretanto, soube-se no final do ano passado que o Ministério Público concluiu que o antigo presidente do Benfica montou mais um esquema para enganar a justiça e três bancos portugueses com garantias falsas. Trata-se de um novo processo em que estão outra vez em causa os crimes de burla qualificada e de falsificação de documentos.

“Número dois” de Vale e Azevedo entre 1997 e 1999, Botelho da Costa lembrou aqueles tempos difíceis em que chegou a ter de usar os magros proventos do bingo do Benfica para pagar as despesas quotidianas de manutenção do estádio. “Era dinheiro em cash que entrava para gerir o dia-a-dia”, relatou.

À medida que os dias passavam, as cisões na direcção do clube afundavam-se: “Havia dois blocos: cinco vice-presidentes estavam do lado dele e quatro connosco”, prosseguiu o mesmo antigo dirigente. Era na sua casa que os quatro se encontravam muitas vezes. “Para conspirar”, admite Botelho da Costa.

A ideia era “derrubar o presidente e devolver a palavra aos sócios”, eufemismo futebolístico para eleições. Mas nem tudo correu como o previsto: havia “um traidor” no grupo de conspiradores, que “jogava para os dois lados e ia contar tudo a Vale e Azevedo”: o também vice-presidente António Sala, responsável pelo sector cultural dos “encarnados”, referiu.

Quando as contas bancárias do clube acabaram por ser congeladas por causa das dívidas, entre Abril e Junho de 1998, Botelho da Costa propôs aos restantes dirigentes do Benfica que abrissem uma conta particular para conseguirem continuar a gerir os dinheiros do clube: “Era ilegal, mas tratava-se de uma situação de emergência”.

Vale e Azevedo opôs-se e daí em diante foram as contas bancárias do presidente e das suas empresas que passaram a ser usadas para esse fim, com toda a confusão entre dinheiros do clube e dinheiros do advogado que daí adveio.

 

 
 

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