CGTP reclama "uma das maiores manifestações" dos últimos anos no Porto

Intersindical fala em mais de 40 mil manifestantes, mas PSP fala em "cerca de 10 mil" pessoas. Mote do protesto foi o pedido de demissão do Governo.

Ao princípio não parecia que ia ser assim. Ao bater das 15h, hora a que a concentração estava marcada para a Praça da Batalha, havia música e cartazes, mas muitos espaços vazios.

Entre os manifestantes, vaticinava-se que muitos mais iam chegar, que os portugueses “aparecem em cima da hora”. Não foi o caso de José Duarte, de 88 anos. Empunhando um cartaz (FMI Fora Daqui) e com um autocolante colado no peito (Luto Ferroviário) garante que não perdia a manifestação por nada e que, enquanto puder, a outras irá. “Roubaram-nos os passes. Não desisto. Isto aqui [a manifestação] é justo”, diz. Elisabete Sousa, 60 anos, costureira reformada, segura um cartaz dirigido ao primeiro-ministro e o ao ministro das Finanças, com o aviso “olha que o povo é bom mas não é parvo”.

O nome de Vítor Gaspar (identificado como Gasparzinho) está particularmente adornado. “É que já me faz gazes vê-lo”, diz a portuense, que diz estar ali “pelos jovens que não têm emprego e pelos reformados a quem tiram a reforma”, mas não só. “Cortam tudo e não olham a meios. São uns políticos de aviário e isto já não vai lá com canções na Assembleia, era com tomates e ovos podres contra eles”, atira, numa referência à forma como um grupo de populares interrompeu, ontem, o discurso de Passos Coelho no hemiciclo, entoando Grândola, Vila Morena, de José Afonso.

A música de Zeca Afonso andou pela praça, lado a lado com cartazes que identificavam trabalhadores da hotelaria, da administração pública, da energia ou do ensino. Um grupo de funcionários da STCP chegou num autocarro feito de plástico e ripas de madeira, com o destino “2013 Morte Lenta” e a indicação que era “Movido a Pé”. Luís Vasques, sindicalista do sector da limpeza, recuperou o cartaz que tinha levado a Lisboa, na manifestação do passado dia 27 de Setembro, em que as estrelas eram, de novo, Passos Coelho e Vítor Gaspar. Mas, viu-se depois, já na Praça da Liberdade, havia muitos cartazes novos. Como um que retratava o banqueiro Fernando Ulrich vestido com um uniforme nazi, ao lado das frases “Quantos pobres, quantos sem-abrigo são precisos para enriquecer um fascista destes” ou um outro, retratando o recém-empossado secretário de Estado do Empreendedorismo, Franquelim Alves, saltando do BPN para o Governo, com o dizer “Aí vai Franquelim”.

A manifestação saiu da Batalha às 15h30, ao som de “que o Governo vá para a rua”, gritado no megafone do carro da Intersindical que abria o desfile,  e chegou aos Aliados às 16h. Meia hora depois, quando João Torres já falava no alto do autocarro amarelo, os últimos manifestantes entravam na avenida, depois de um percurso em que as vozes nunca se calaram, em protesto contra o desemprego, o corte dos subsídios, o aumento da taxa de IRS e das renda ou os cortes na saúde ou na educação.

Entre os manifestantes estavam vários autarcas da CDU e do Bloco de Esquerda, e também o dirigente nacional deste último partido, João Semedo, que, em declarações aos jornalistas deixou um recado ao Governo de Passos Coelho: “O que é para sempre é o Estado Social, é a Democracia, o que não será para sempre, felizmente, para este país, é o Governo”.

Numa referência às declarações do primeiro-ministro de ontem à noite, no Porto, de que “o Governo não exigirá mais do que aquilo que é necessário para que se cumpram os objectivos, sem que a corda que está esticada possa vir a partir-se”, Semedo disse que o Governo “esticou a corda toda e já não tem mais corda”, defendendo que esta já está partida “há muito tempo”. E, sobre as manifestações organizadas pela CGTP em 24 cidades do país, afirmou: “Se [o Governo] não se demitir, este povo, seguramente, vai demiti-lo”.
 

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