Dor crónica afecta o registo das memórias no cérebro
Um artigo de investigadores portugueses, publicado no Journal of Neuroscience, mostra como a dor persistente reduz a capacidade de memória de curto prazo.
Já se sabia que a dor provoca estragos (ou, pelo menos mudanças) no nosso cérebro, afectando diversos processos cognitivos, desde a atenção ou memória à tomada de decisões. Neste trabalho, os investigadores usaram um modelo animal para estudar especificamente o efeito das dores crónicas no processamento da memória de curto prazo.
Para isso, focaram-se no circuito neuronal que é essencial neste processo e que acontece entre duas partes do encéfalo, o córtex pré-frontal e o hipocampo. Recorrendo a “multieléctrodos implantados permanentemente no encéfalo”, foi registada a actividade neuronal de um animal com dor neuropática durante a execução de uma tarefa comportamental dependente de memória espacial”.
Segundo o comunicado, os animais foram treinados num labirinto em que tinham de escolher entre dois caminhos alternativos, e necessitavam depois de relembrar o caminho escolhido. “Os resultados mostram que após o início da lesão dolorosa ocorre uma redução significativa da quantidade de informação que é partilhada pelo circuito. Isto pode significar uma perda na capacidade de processar informação de memória sobre localização espacial ou pode significar que essas regiões fundamentais para a memória são agora 'invadidas' por estímulos dolorosos que vão perturbar o fluxo de informação neuronal de memória”, referem os cientistas.
Vasco Galhardo, investigador do IBMC que coordenou a pesquisa, resume os resultados: “Este trabalho contribui para a demonstração de que a dor crónica induz alterações no funcionamento cerebral em circuitos que não estão directamente ligados ao processamento táctil ou doloroso”. Sustenta-se ainda que “são, também, afectados circuitos neuronais relacionados com processamento de memórias e emoções, o que pode levar a um repensar de estratégias mais abrangentes para o tratamento de patologias dolorosas”, adianta o investigador.