PCP critica alternância de figuras sem mudança de política
Início do segundo dia do XIX Congresso pautado pelas intervenções do líder parlamentar comunista, pelo ex-secretário-geral Carlos Carvalhas e deputado Agostinho Lopes.
“Os elementos da democracia económica, social e cultural não existem sem a democracia política. Mas também não há democracia política verdadeira e plena sem que haja democracia económica, social e cultural”, disse Bernardino Soares.
O dirigente comunista subiu ao palanque para defender que o regime democrático está “amputado” quando o poder político é refém do poder económico e quando os governos são “fiéis executores” das orientações dos grandes grupos económicos.
Durante a intervenção, largamente aplaudida pelos congressistas, Bernardino tinha na manga os “executores” dessa política, criticando duramente a lógica de alternância no poder entre PS, PDS e CDS.
Mudar, mas pouco
“A alternância que praticam entre si é isso mesmo: mudar os protagonistas para procurar garantir que a política não muda”, acusou o líder da bancada parlamentar do PCP. E deu exemplos: “Sempre que necessário, PSD e CDS apoiaram os governos e as maiorias do PS, tal como o PS apoiou os governos e as maiorias do PSD e do CDS. O PS assinou o pacto de agressão, o PSD e o CDS subscreveram-no. O PSD e o CDS aplicam-no no Governo e o PS subscreve as decisões fundamentais.”
Também nesta manhã, foi a vez de Carlos Carvalhas, ex-secretário-geral, intervir perante uma audiência de mais de 1250 delegados. No discurso, Carvalhas acusou os mercados de "sugar o máximo", defendeu que "o Estado transformou-se, de facto, em prestamista dos bancos" e terminou a justificar a necessidade da renegociação da dívida para pôr o país a crescer.
"Depois de negarem a evidência começaram então a conjugar o “re”, de reavaliação, de reanálise, de revisitação da dívida e dos termos acordados com a troika, para evitarem chamar os bois pelos nomes: renegociação", disse Carvalhas.
Também o ex-líder do PCP, à semelhança de Bernardino, criticou o "rotativismo" entre os três maiores partidos. Já no final da intervenção, Carlos Carvalhas defendeu a formação de um governo de esquerda. Os delegados ao Congresso aplaudiram de pé.
A sobrevivência do euro
A ideia de um Governo de esquerda também esteve presente na intervenção do deputado Agostinho Lopes, eleito por Braga. E um dos trabalhos desse executivo, defendeu, é preparar o país para a eventualidade de o euro acabar ou de o país ter de o abanonar.
“Há duas ilusões a evitar. A de que é possível uma alternativa com a manutenção do euro e mais federalismo, como querem o PS e o Bloco de Esquerda; e a ideia de que tudo se resolve com uma saída pura e simples do euro, qualquer que seja a forma como se sai e as condições de saída”, advertiu Agostinho Lopes.
Nesse sentido, um governo “patriótico e de esquerda” deve preparar o país para “a reconfiguração da zona euro, nomeadamente a saída da união económica e monetária, por decisão própria ou crise na União Europeia, salvaguardando os interesses de Portugal”.