ACP contra redução de vias e alteração de sentidos na Avenida da Liberdade
Num parecer entregue ontem à câmara, a associação considera que caso se concretizem as alterações propostas pela autarquia - e que estão em discussão pública até ao final de Julho -, a avenida vai assistir a “mais congestionamentos de tráfego, mais atropelamentos” e ao fim do comércio local.
A Câmara pretende limitar as faixas centrais a três vias no sentido Baixa-Marquês de Pombal e a duas vias no sentido inverso na quase totalidade da avenida (entre a Rua Alexandre Herculano e os Restauradores), e alterar o sentido do trânsito em quase todas as faixas laterais, onde serão reduzidos os lugares de estacionamento. No Marquês de Pombal, o trânsito vai circular em duas rotundas concêntricas separadas por passeios e espaços verdes. O objectivo é reduzir o tráfego nesta zona central da cidade, dar mais espaço aos peões e diminuir a poluição.
“A intenção da Câmara de Lisboa é que as pessoas não vão para a Avenida da Liberdade de carro mas sim de transportes públicos. Isso é estúpido, porque as pessoas que vão às lojas de luxo da avenida vão de carro, não vão de metro nem de autocarro”, critica o presidente do ACP, Carlos Barbosa. “Se as pessoas não têm parques de estacionamento alternativos, deixam de ir às lojas”, resume.
No parecer, o ACP defende que o controlo da poluição na avenida pode ser feito através de uma melhoria da eficácia do sistema de semáforos e da instalação de sensores de poluição, para controlar o limite de emissões poluentes. Isto porque, defende a associação, “a procura de tráfego nas zonas centrais já é baixa e praticamente cativa”, já que após as restrições na Baixa e no Terreiro do Paço o tráfego diminuiu “para cerca de metade”.
Para o ACP, o esquema proposto pela autarquia para a Avenida da Liberdade tem “falta de flexibilidade” e vai provocar “restrições operacionais” e “graves problemas na resolução de eventuais incidentes nas faixas de rodagem”.
Nas faixas laterais, a associação propõe a criação de sistemas de acalmia de tráfego em vez da alteração de sentidos, a qual irá causar “incerteza, desconforto e insegurança” no atravessamento de peões, “podendo originar atropelamentos”, defende. A diferenciação e elevação do pavimento é uma das soluções propostas.
Quanto à redução do número de lugares de estacionamento à superfície (de 420 para 150, segundo a proposta municipal), o ACP diz que só concordará caso sejam criados novos parques de estacionamento. A câmara prevê ainda o alargamento dos passeios, para melhorar a circulação pedonal e ciclável, mas a associação defende antes a continuidade longitudinal dos passeios.
No parecer, a ACP concorda com algumas das alterações de sentido nas artérias envolventes à Avenida da Liberdade, nomeadamente a criação da alternativa de entrada pela Rua Barata Salgueiro para contrariar o congestionamento de trânsito que se verifica em horas de ponta no cruzamento entre a Rua Alexandre Herculano e a Rua Rodrigues Sampaio.
Ainda assim, propõe a manutenção da viragem à esquerda na Rua Alexandre Herculano e a eliminação da passadeira que atravessa as vias centrais do troço entre aquela rua e a rotunda do Marquês de Pombal. Em alternativa, sugere que o atravessamento de peões passe a ser feito através da passagem subterrânea do Metro, que existe mesmo por baixo da zona da passadeira, ou então na passadeira que existe mais abaixo na avenida.
Quanto à criação de duas rotundas concêntricas no Marquês de Pombal, a ideia “não é má”, mas “sem três vias na rotunda exterior é impensável”, diz Carlos Barbosa. A proposta do vereador da Mobilidade prevê apenas duas vias para a rotunda exterior e três para interior. Entre as duas serão criados passeios e jardins.
“Vai haver engarrafamentos loucos na Avenida Joaquim António de Aguiar e na Avenida da Liberdade”, vaticina Carlos Barbosa, que espera agora “bom senso” por parte da autarquia.
“Com apenas duas vias e com dimensão limitada, a rotunda exterior terá pouca capacidade para processar a agregação de fluxos de tráfego individual, de transporte colectivo, de paragem e estacionamento turísticos e de acesso às actividades”, justifica.