Overdoses por analgésicos nos EUA matam três vezes mais em dez anos
Este é um dos dados do relatório publicado neste mês pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês), que assume a existência de uma epidemia no país responsável por quase 75% das mortes por overdose, mas do que a heroína e a cocaína juntas, duas drogas ilegais. Só no ano passado, 12 milhões de norte-americanos admitiram ter utilizado drogas da família dos opiáceos como a OxyContin ou o Vicodin, para fins recreativos.
“A chocante e má notícia é que estamos no meio de uma epidemia de prescrição de drogas neste país. É uma epidemia mas pode ser travada”, disse Thomas Friedem citado pela AFP. “Actualmente, o ímpacto das drogas perigosas está a ser alimentado mais por alguns médicos irresponsáveis do que por dealers nas ruas”, acrescentou director do CDC.
De acordo com o relatório, o grupo mais afectado são homens entre os 35 e os 54 anos de idade, os índios ou nativos do Alasca e as pessoas que vivem nos concelhos rurais em relação às grandes cidades.
Um dos problemas detectados pelo relatório é o acesso fácil a estes medicamentos. A quantidade de prescrições quadruplicou entre 1999 e 2010. Este aumento, segundo relatório, deve-se às chamadas pill mills – centros onde as pessoas facilmente obtêm prescrições médicas para comprar os analgésicos –, e ao fenómeno doctor shopping em que se obtêm receitas de vários médicos.
O resultado é que em 2010 foram prescritos analgésicos à base de opióides suficientes para medicar cada norte-americano adulto durante um ano, revelou o relatório.
Esta família de químicos é altamente aditiva. “O que acontece em muita da população é que tomam a medicação para lago como uma dor de joelho, ou uma cirurgia”, disse Michael Lowenstein, à AFP. “Os receptores dos opiáceos estão muito próximos dos centros de prazer no cérebro, por isso durante um período as pessoas não só se sentem melhor das dores como das ansiedades, depressões e do stress”, explicou Lowenstein que trata pacientes numa clínica para a dor em Los Angeles, na Califórnia.
“O problema é que é necessária cada vez mais medicação para obter a mesma resposta dos medicamentos e alguém começa com dois, três ou quatro Vicodins e antes que dê por isso está a tomar 20, 30 ou 40 por dia”, explicou, acrescentando que há 15 anos os pacientes que vinham para a clínica tinham problemas com heroína ou cocaína e hoje a maioria está viciado em analgésicos.
Em excesso, estes fármacos podem provocar paragens respiratórias e são particularmente letais quando associados com outros medicamentos ou com álcool. O relatório refere ainda que os seguros gastam por ano neste problema 52,7 mil milhões de euros.