Turismo de saúde, economia e saber
Pode ser que a desconfiança gananciosa dos laboratórios ocidentais face aos indianos venha a esbater-se.
Há abordagens inteligentes que mostram o profundo entendimento das realidades humanas: a Gilead Sciences Inc. descobriu um remédio, eficaz e curativo em 90% dos casos, da hepatite C. O seu custo, para um tratamento completo de 12 semanas, à razão de um comprimido diário, ronda os 94.500 dólares.
Cerca de 54% dos que têm este tipo de hepatite vive nos países pobres com um rendimento per capita de 1900 dólares. Só na Índia cerca de 4,5 milhões estão infectados com a hepatite-C, genotipo 1, para o qual aquele remédio é indicado.
Laboratórios Indianos, recorrem às cláusulas da OMC-Organização Mundial do Comércio, para terem autorização de fabricar produtos genéricos, com os mesmos princípios activos, a um custo muito baixo, acessível aos utilizadores locais. Antes da adesão à OMC, a cópia só se podia fazer ao expirar a patente. Antes disso? Parte dos doentes pobres estaria condenada, sem esperança de cura, a não ser que algum laboratório não respeitasse a patente, por respeito aos doentes.
Em 2001, Yussuf Hamied, Presidente da CIPLA (laboratório indiano de grande prestígio), convocou uma conferência de imprensa em Londres para anunciar que o seu laboratório iria vender o genérico para o HIV por 350 dólares a dose para o ano inteiro. Só ouviu protestos dos laboratorios ocidentais que tinham descoberto o remédio, pois eles vendiam-no por 10.000 dólares a dose para um ano. Hamied foi para a frente com a sua, pois eram muitos os doentes dos países pobres que poderiam sucumbir a breve trecho…sem o remédio.
A decisão da Gilead foi de dar licença de fabricação, não-exclusiva, a mais de 10 laboratórios indianos (1), pagando estes um royalty de 7% das vendas, podendo distribuí-lo na Índia e em mais 91 países pobres especificados.
É uma decisão muito esclarecida e felicito o seu presidente. Não cria atritos nem uma detestação por parte dos pobres, e ao mesmo tempo revela um grande sentido de justiça. Não vai agradar o que digo, mas pense-se: quais são os países pobres? São: quase toda a Ásia, espoliada pelos colonizadores ingleses, franceses e holandeses; a África, presa despedaçada pela colonização europeia; e a América latina e do sul, colónias sempre pobres. Daí que os países ricos, em geral colonizadores, com meios para investigar, devam, no mínimo, ter em conta o passado, para actuarem como o fez agora a Gilead. Esta abriu um novo ‘caminho’, cooperante e de compreensão, que, espero, venha a ter seguidores; merecerá o reconhecimento de todos os ‘pobres’ e pode ser que a desconfiança gananciosa dos laboratórios ocidentais face aos indianos venha a esbater-se, confrontados com a generosidade da Gilead.
O preço de venda do genérico desse produto na Índia é de 1000 dólares (2). É muito tentador... mesmo nos países com um Sistema Nacional de Saúde que paga parte dos custos, mas não tudo; ou nos países ricos onde há uma faixa de pessoas sem cobertura dos custos de saúde; nem seguros à altura e mesmo havendo, se eles têm um tecto muito baixo…. para ir à Índia comprar ou tratar-se localmente.
Na pior hipótese de ter de passar as 12 semanas na Índia – confirmado que os genéricos são de alta qualidade e eficácia –, as pessoas de reduzidos rendimentos dos países ricos, poderão ter os custos totais baixos, de menos de 12.000 dólares, incluindo viagens para o proprio doente e cônjuge, estadia e alimentação num bom hotel de 3 ou 4 estrelas e o custo dos remédios.
Se a escolha for Goa, terá ainda vantagens adicionais: de estar num local paradisíaco, onde cada recanto recorda factos históricos, um destino privilegiado de turistas indianos e ocidentais; de ocupar o tempo em algo interessante, como aperfeiçoar o inglês; recordar a história de Goa e, em especial, aprender o manejo de computadores e da internet. Tudo isso com lições particulares a bons preços.
Um complemento à estadia pode ser um check-up completo nos modernos hospitais de Goa e, eventualmente, adquirir óculos novos, com lentes das melhores marcas, tratar dos dentes, ou pôr implantes, tudo a preços muito bons, menos de 50% dos europeus.
1) São: Natco Pharma Ltd, Hetero Drugs Ltd, Cadila Healthcare Ltd, Cipla Ltd, Mylan Laboratories Ltd, Ranbaxy Laboratories Ltd (agora Sun Pharmaceutical Industries Ltd), Sequent Scientific Ltd, Strides Arcolab Ltd.e a Biocon.
2) Não sei se é possível, nem o tipo de controlo e venda, se em doses semanais ou para as 12 semanas
Professor da AESE- Business School. Dirigente da AAPI