Pelo menos sete bombas matam 150 pessoas em bastiões de Assad

Latakia, a província onde a Rússia, aliada do regime, tem uma base naval e várias bases aéreas, nunca tinha vivido tanta violência. Atentados são vitória simbólica para os jihadistas que têm perdido terreno.

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Uma das explosões atingiu uma zona residencial da cidade costeira de Jableh AFP

O chamado “país alauita”, onde se concentra grande parte da população síria que pertence ao ramo do xiismo da família de Bashar al-Assad e da elite do regime, viveu esta segunda-feira um dia como nenhum outro. Hospitais e paragens de autocarro foram alguns dos alvos dos sete atentados quase simultâneos reivindicadas pelos jihadistas e que lançaram o terror nas cidades de Jableh e Tartus, na província de Latakia, no Noroeste da Síria. A esmagadora maioria dos mortos são civis.

Alguns dos atentados, todos reivindicados pelo autodenominado Estado Islâmico (EI), seguiram o método que a Al-Qaeda usou durante anos no Iraque, com uma primeira explosão num local muito frequentado destinada a reunir ainda mais pessoas em redor das vítimas seguida por novas explosões.

Foi o que aconteceu em Tartus, cidade portuária onde a Rússia tem a sua única base naval fora do espaço geográfico da antiga União Soviética. Um carro-bomba explodiu ao início da manhã na principal estação de autocarros da cidade e dois bombistas suicidas fizeram-se explodir quando mais gente se tinha concentrado para ajudar as vítimas, matando pelo menos 48 pessoas. “As pessoas começaram a correr mas ninguém sabia em que direcção ir, os carros estavam em chamas, havia sangue e corpos pelo chão”, descreveu à Reuters o motorista Nizar Hamade.

Nunca tinha havido um atentado em Tartus, nunca ali caíram bombas nem houve combates entre as forças leais a Bashar al-Assad e os rebeldes, como em tantas outras cidades da Síria mais de cinco anos depois do início da revolta popular contra o regime. Por ali, a vida nunca parou e, por isso, muitas das vítimas são crianças que iam para a escola e jovens que apanhavam o autocarro para as suas universidades em época de exames. “Estávamos a chegar à estação e ouvimos as explosões, o nosso autocarro voltou para trás”, disse ao El País Maruan G., estudante de Direito de 20 anos que vive numa aldeia nas redondezas.

Em Jableh, onde estão confirmados 100 mortos, um carro armadilhado rebentou junto a outra estação de autocarros pouco antes de um bombista suicida detonar os seus explosivos dentro da estação. Outro fez-se explodir na companhia de electricidade da cidade e um terceiro à entrada das emergências de um hospital para onde tinha ajudado a transportar feridos da estação de autocarros. Uma das bases aéreas usadas por Moscovo em Latakia fica muito perto de Jableh.

“Ao que tudo indica são quase todos civis”, afirma o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, grupo da oposição com sede em Londres e uma rede de médicos e activistas na Síria que tenta fazer a contabilidade dos mortos na Síria. Há dezenas de feridos nas duas cidades.

O Kremlin diz que estes atentados sublinham a importância de avançar com as negociações de paz em Genebra depois do colapso da trégua negociada no fim de Fevereiro por russos e norte-americanos que permitiu diminuir a violência em diferentes zonas do país. “Isto demonstra mais uma vez como a situação na Síria é frágil”, disse numa conferência de imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio enviou uma carta às Nações Unidas onde descreve estes atentados como “uma perigosa escalada pelos regimes hostis e extremistas em Riad, Ancara e Doha”, numa referência ao apoio que a Arábia Saudita, a Turquia e o Qatar dão aos grupos armados da oposição – Damasco não distingue entre nenhum grupo armado da oposição e os extremistas do Estado Islâmico ou da Frente al-Nusra (a última encarnação na Al-Qaeda na Síria), os dois grupos que ficaram de fora da trégua de Fevereiro.

Síria e Iraque

Num comunicado, o Estado Islâmico reivindicou os ataques, afirmando que visavam “apoiantes” de Assad. Estes alvos são simbólicos para o grupo, que nos últimos meses tem somado derrotadas tanto na Síria como no Iraque e já perdeu 30% do território que controlava no fim de 2014, quando Abu Baqr al-Baghdadi se declarou líder de um novo “califado islâmico”.

Pouco depois das explosões na Síria, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, felicitava-se pelos “sucessos” das suas tropas nas primeiras horas de uma operação militar que visa recapturar Falluja, cidade entre Bagdad e a fronteira do país com a Síria nas mãos dos homens de Baghdadi.

Os bombardeamentos dos Estados Unidos pressionam os jihadistas no Norte do Iraque e permitem aos iraquianos combatê-los no terreno, enquanto a campanha aérea apoiada por Moscovo em Março os expulsou de Palmira, na Síria. À medida que perde território, o grupo tem optado por lançar este tipo de ataques bombistas coordenados contra alvos civis, como os que mataram perto de 200 pessoas nas últimas semanas em Bagdad ou os que no início do ano fizeram mais de 140 mortos em Damasco e perto de Homs.

 

 

 

 

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