Lula: “Venho dizer aos que protestam contra mim: protestem”

Falando pela primeira vez em público desde a sua nomeação como ministro, Lula disse que os “dois anos e dez meses” que restam de governo Dilma “é tempo suficiente para virar a história do país".

Lula na manifestação em São Paulo
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Lula na manifestação em São Paulo AFP
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Minutos antes de Lula falar na manifestação de apoio ao governo em São Paulo, na sexta-feira à noite, o presidente do seu partido, o PT, Rui Falcão, disse que aquele era o momento "da verdadeira posse do Presidente Lula como ministro da esperança do país". Depois, a voz rouca do torneiro mecânico pernambucano tomou conta de uma avenida entupida de gente. “Venho dizer aos companheiros que fazem protesto contra mim: protestem! Eu nasci na vida protestando, fazendo greve, fazendo campanha pelas Directas Já [um dos movimentos de maior mobilização popular no Brasil, que no final da ditadura militar reivindicou eleições presidenciais directas]”.

A ida de Lula para o governo de Dilma Rousseff, anunciada esta semana, gerou uma sucessão de protestos nas ruas por parte dos sectores que defendem o impeachment da Presidente brasileira. Na sexta-feira, foi a vez dos apoiantes do governo irem para as ruas em todo o país. A manifestação de São Paulo, que ocupou a Avenida Paulista, foi a maior. Lula, que ainda não tinha falado publicamente desde a sua nomeação para o governo, acusou a oposição de não aceitar os resultados das eleições presidenciais de Outubro de 2014, que deram a vitória a Dilma Rousseff, e de falar em democracia “da boca para fora”.

“Eu perdi a eleição em 1989, em 1994, em 1998. Já tinha perdido em 1982, para o governo de São Paulo. Em nenhum momento, vocês viram eu ir para a rua protestar contra quem ganhou.” Do alto de um camião de som, Lula convocou a retórica da luta de classes – o que está a acontecer no país é um caso de elites versus povo.

“Eles, que se dizem pessoas estudadas, sociais-democratas, não aceitaram o resultado. Estão atrapalhando a Presidente Dilma a governar esse país. Vestem verde e amarelo [cores da bandeira do Brasil] porque acham que são mais brasileiros do que nós. Corte uma veia para ver se sai sangue vermelho como o nosso! Eles querem viajar para Miami, eu viajo para o Rio Grande do Norte, para a Bahia, eu viajo pelo Brasil.”

“Temos de convencê-los de que democracia é o resultado do voto da maioria do povo brasileiro”, declarou.

Lula está impedido de exercer as funções de ministro da Casa Civil por ordem judicial mas anunciou que na próxima terça-feira, dia da transmissão do cargo, “se não houver impedimento”, estará “orgulhosamente servindo a Presidente Dilma, o povo brasileiro, o trabalhador brasileiro”. “Eu vou lá para ajudar a companheira Dilma a fazer as coisas que ela tem que fazer neste país", disse.

O ex-Presidente aceitou participar do governo porque os "dois anos e dez meses” que restam de governo Dilma “é tempo suficiente para virar a história deste país".

"É humanamente impossível uma Presidenta ter tranquilidade com a quantidade de desgraças que ela lê todo dia, com a quantidade de complicações, críticas negativas todo o santo dia”, disse. “Eu fui presidente, eu sei o que é isso. Eu falei para a Dilma: ‘Não vou exigir muito de você. Eu só quero que você sorria, deixa a gente ficar mal-humorado.’”

Lula explicou que um dos motivos que o fez aceitar ir para o governo “é para que a Dilma sorria pelo menos dez vezes por dia”.

No seu discurso, não houve críticas à Operação Lava Jato, nem ao juiz que a comanda, Sérgio Moro.

Lula, 70 anos, disse estar emocionado com a multidão que se concentrou na Avenida Paulista. “Eu vou levar uma fotografia disso aqui para a Presidenta Dilma. Para ela saber que nem tudo em São Paulo é negativo, que aqui tem gente que quer que ela governe esse país".

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