Fracassa a primeira ronda negocial entre PSOE, Podemos e Cidadãos

Sánchez, Iglesias e Rivera têm vinte dias para chegar a um acordo para formar governo. Mas parece uma missão “quase impossível”

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Delegações dos três partidos reuniram pela primeira vez; Pablo Iglesias foi o único líder a participar no encontro REUTERS/Sergio Perez

Nada de novo em Espanha. As delegações do PSOE, do Podemos e do Cidadãos reuniram-se ontem pela primeira vez a pretexto de negociar um acordo de governo e o resultado foi o impasse previsto por quase todos os analistas. Não foi marcada data para nova reunião, mas é previsível que outras se sigam. Se não houver um pacto antes de 2 de Maio, o parlamento será dissolvido e haverá eleições no fim de Junho.

Na conferência de imprensa final, José Manuel Villegas, do Cidadãos, resumiu assim a situação: “Neste momento é impossível um pacto com o Podemos.” António Hernando, chefe da delegação do PSOE manifestou opinião diferente: “Creio que o acordo é ainda possível e que é possível evitar eleições, umas eleições que apenas o senhor [Mariano] Rajoy deseja. (...) Vamos continuar a trabalhar.” O Podemos reservou para amanhã a sua tomada de posição, após uma reunião interna.

O único acordo que permanece em cima da mesa é o pacto assinado em Março entre o secretário-geral socialista, Pedro Sánchez, e o líder do Cidadãos, Albert Rivera. A delegação do Podemos, o único partido a ser representado pelo seu líder, Pablo Iglesias, apresentou um documento com 20 propostas que o Cidadãos considera significar a anulação do acordo com o PSOE. Iglesias voltou a defender o direito ao referendo nas regiões independentistas, uma “linha vermelha” para os seus dois interlocutores.

Não reunindo o PSOE e o Cidadãos uma maioria — a investidura de Sánchez foi rejeitada pelo Congresso dos Deputados — o PSOE precisa de obter o voto favorável ou, no mínimo, a abstenção do Podemos. Mas Podemos e Cidadãos são incompatíveis, da questão das nacionalidades à política económica. De resto, o Podemos exige ao PSOE a constituição de um “governo progressista” de que o Cidadãos não poderia fazer parte e incluiria a Esquerda Unida (de matriz comunista) e partidos independentistas, Inversamente, o partido de Rivera exclui votar a favor de um governo de que o Podemos faça parte, apenas aceitando o seu voto favorável à investidura de Sánchez.

Tacticismos

Pedro Sánchez é o mais interessado em obter um acordo pois a sua sobrevivência política, inclusive dentro do PSOE, depende de conseguir formar governo. Eleições antecipadas, em que se prevê um crescimento da abstenção, são arriscadas para os socialistas, dada a baixa fidelização dos seus eleitores. Não o conseguindo, resta-lhe tudo fazer para responsabilizar o Podemos pelo fracasso de uma alternativa a Rajoy e ao Partido Popular.

Pablo Iglesias quer romper a relação preferencial do PSOE com o Cidadãos, ou seja, evitar a consolidação de uma aliança centro-esquerda. A sua meta continua a ser ultrapassar o PSOE no parlamento, de forma a assumir a liderança da esquerda. Mas também quer evitar ser responsabilizado pelos seus eleitores pela convocações de eleições que, segundo alguns estudos, poderão vir a beneficiar o PP.  

O PSOE vai forçar o prolongamento da negociação tripartida, seja na esperança de que a iminência de eleições torne possível um acordo de última hora, seja na perspectiva do “braço-de-ferro” com o seu mais perigoso concorrente, o partido de Iglesias. E também pela crescente pressão dos meios económicos e de Bruxelas.

O Podemos perdeu terreno nas sondagens pela postura “arrogante” de Iglesias. Mas terá uma carta escondida: aliado à Esquerda Unida, poderia conquistar o papel de segunda força no parlamento, substituindo o PSOE como líder da oposição. Por isso, as negociações são envenenadas pela desconfiança.

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