Eduardo Cunha renuncia à presidência da Câmara dos Deputados do Brasil

É um dos políticos mais poderosos do Brasil e o seu papel foi fundamental no afastamento de Dilma Rousseff. Tenta salvar o lugar de deputado.

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Eduardo Cunha tenta salvar o mandato de deputado AFP

Eduardo Cunha renunciou ao cargo de presidente da Câmara dos Deputados brasileira. Num discurso emocionado esta quinta-feira, o político disse estar a pagar um "preço alto" por ter dado início ao processo de impeachment (destituição) contra a Presidente, Dilma Rousseff.

Cunha  que viu o seu mandato de deputado ser suspenso pelo Supremo Tribunal federal, por ter considerado que usara o seu cargo para atrapalhar as investigações contra ele no âmbito da Operação Lava Jato, na qual é arguido  quer com esta manobra tentar salvar o seu lugar de deputado.

"Resolvi ceder ao apelo generalizado dos meus apoiantes", disse Cunha, com lágrimas nos olhos enquanto lia a carta de demissão, diz o jornal O Globo. O deputado disse que o processo que lhe está a ser movido é politicamente motivado. "Estou pagando um preço alto por ter dado início ao impeachment", afirmou. Lembra o El País que Cunha negou em mais de dez ocasiões ter a intenção de renunciar à presidência por temer as detenções da mulher e da filha, também implicadas na Lava Jato.

Na verdade, Cunha já estava afastado do cargo desde 5 de Maio por decisão do Supremo Tribunal Federal. A renúncia não paralisa o processo que pode levar à perda de mandato e que está a ser apreciado pela Comissão de Constituição e Justiça. Mas com esta jogada política, Cunha pretende acima de tudo afastar a pressão que recaía sobre si e que tornava insustentável a sua manutenção na presidência da Câmara dos Deputados.

A Câmara terá agora cinco sessões para eleger um novo líder, que a imprensa brasileira dá como certo vir a ser um aliado político de Cunha. Os favoritos são Espiridião Amim, Jovair Arantes  e Rogério Rosso, escreve o El País. Para que Cunha perca o mandato, é necessário o voto de pelo menos 257 dos 513 deputados. Um presidente da Câmara favorável a Cunha não pode impedir essa votação, mas pode tomar várias decisões que o beneficiem, como, por exemplo, marcar a sessão para um dia em que seja expectável um plenário esvaziado, lembra o colunista da Folha de São Paulo, Ranier Bragon.

A perda do mandato como deputado implica a perda do chamado "foro privilegiado" — uma prerrogativa que obriga a que os titulares de cargos públicos sejam julgados apenas pelo Supremo Tribunal — e é isso que Cunha quer evitar a todo custo.

Cunha é um dos mais poderosos políticos do Brasil e a sua actuação foi fundamental no afastamento de Dilma Rousseff, cujo mandato está suspenso. Michel Temer, parceiro de Cunha no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e número dois de Dilma, assumiu a presidência interinamente até haver uma decisão final sobre a destituição da chefe de Estado, o que está previsto para Agosto.

Uma das principais dúvidas que se levantam para os próximos tempos é saber se a aliança entre Cunha e Temer se irá manter, uma vez que o Presidente interino pode vir a considerá-lo um aliado tóxico.

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