De repente há mulheres a disputar o topo da política britânica. Isso é bom?
Ver uma mulher num cargo de liderança continua a não ser uma coisa trivial.
A política britânica “precisa é de mais mulheres difíceis”, afirmou Theresa May, a ministra do Interior e favorita na corrida à liderança do Partido Conservador – e ao cargo de primeira-ministra –, em resposta ao comentário de um barão do seu partido.
De repente, no meio da crise política desencadeada pelo referendo que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia, a liderança dos dois principais partidos está a ser disputada por mulheres. Com a decisão da deputada trabalhista Angela Eagle de desafiar Jeremy Corbyn e querer disputar a direcção do Labour, e com Andrea Leadsom e Theresa May a disputarem a direcção do Partido Conservador, no futuro imediato o topo da vida política britânica parece dominado por mulheres.
Na Escócia, também há uma primeira-ministra: Nicola Sturgeon. O partido independentista de Gales, Plaid Cymru, é também liderado por uma mulher, Leanne Wood, e há ainda uma mulher a liderar outra formação, o Partido Verde, Natalie Bennett.
Porém, a confirmar-se que o próximo inquilino do número 10 de Downing Street será uma mulher, isso acontecerá apenas pela segunda vez em 76 primeiros-ministros desde 1721, frisa o Guardian. A primeira é inesquecível: Margaret Thatcher.
Ver uma mulher em cargos de liderança, seja na Europa ou noutros continentes, continua a não ser uma coisa trivial. Continua a ser mais uma excepção do que uma regra.
A eleição de cem deputadas pelos trabalhistas em 1997 fez mais para mudar a cultura no Parlamento britânico e para pôr na agenda temas relacionados com as mulheres do que todos os anos que Thatcher passou em Downing Street (1979-1990), frisa o Guardian. A violência doméstica tornou-se uma prioridade policial e foram introduzidas as licenças para homens e mulheres depois do nascimento de filhos, por exemplo.
Apesar destas cem deputadas, os trabalhistas britânicos não produziram uma primeira-ministra. A maioria dos deputados continua a ser do sexo masculino, embora tenha uma boa representação feminina: 44% de mnulheres, contra os 20% dos conservadores (números citados pelo director adjunto do Guardian Michael White.
Apesar destas cem deputadas, os trabalhistas britânicos não produziram uma primeira-ministra. Angela Eagle, que agora se candidata, apesar de ter uma longo currículo parlamentar – é deputada desde 1992 – é uma figura com pouca visibilidade. Isto apesar da curiosidade de formar mais um dueto na bancada trabalhista, depois dos irmãos Miliband - tem uma irmã gémea.
Maria Eagle, que foi porta-voz do partido para a Defesa – mas a quem Corbyn retirou a pasta, porque não partilhava das suas ideias, nomeadamente no dossier nuclear – está no Parlamento desde 1997. Tal como a irmã, tem experiência nos governos de Tony Blair e Gordon Brown, embora não em cargos destacados. E ambas estiveram nos governos sombra de Ed Milliband e Corbyn.
Com a eleição de uma mulher para liderar os conservadores, também não é de esperar que avance uma agenda feminina. Theresa May tem um perfil bastante à direita, não só na imigração - também apoiou medidas restritivas do aborto. Explora o seu lado feminino com sapatos coquetes – por vezes de um gosto algo discutível. E Andrea Leadsom, que está sob fogo por declarações que deram a entender que seria melhor líder que May por ter filhos, votou contra o casamento gay. Apoia políticas de apoio à maternidade tradicional.