Clinton usou email privado para discutir preparação de ataques com drones
Documentos divulgados voltam a ensombrar a candidatura da democrata. Mas o FBI já declarou que não há motivo para acusações.
Documentos divulgados na sexta-feira pelo FBI sobre a investigação ao uso de email privado por Hillary Clinton, quando era secretária de Estado, mostram que a candidata democrata à presidência dos Estados Unidos o usou várias vezes para discutir a preparação de ataques com drones que visavam suspeitos de terrorismo considerados classificados, noticia o jornal New York Times.
O diário norte-americano escreve que responsáveis do FBI questionaram demoradamente Hillary Clinton sobre o uso do email privado para trocar informações sobre estes ataques e insistiram igualmente em perceber o envolvimento da candidata na destruição, por parte de um especialista informático, de uma grande quantidade de emails guardados num arquivo pessoal, mesmo depois de um comité do congresso ter pedido que fossem preservadas.
Já o Washinton Post preferiu destacar que os documentos mostram que a ex-secretária de Estado e o seu staff usavam “um sistema informal e às vezes aleatório [de email] para trocar e armazenar informações sensíveis, mostrando desconhecimento ou despreocupação com a política do Departamento de Estado”.
No início de Julho, o director-geral do FBI, James Comey, anunciara que não fora encontrado qualquer motivo para acusar formalmente Hillary Clinton pelo uso do seu email pessoal durante os anos em que foi secretária de Estado da Administração Obama, entre 2009 e 2013. Numa comunicação sem direito a perguntas dos jornalistas, Comey disse que Clinton e os seus funcionários do Departamento de Estado foram "extremamente negligentes na forma como trataram informação sensível e classificada ao mais alto nível". Isto depois de um ano a investigar o caso, que estalou em 2014 e tem ensombrado a campanha de Clinton.
A divulgação de um resumo do interrogatório feito a Clinton pelo Departamento de Justiça a 2 de Julho e que durou três horas e meia, mostra que a candidata democrata insistiu que não sabia da destruição dos emails, que supostamente deveria ter ocorrido um ano antes, mas não teria sido concretizada por esquecimento do especialista.
Dezenas de vezes ao longo do interrogatório, Clinton diz que não se lembrar de detalhes sobre o uso dos servidores pessoais instalados na sua mansão em Chappaqua, no estado de Nova Iorque, ou de orientações que tenha recebido sobre como tratar com informação confidencial.
No resumo do depoimento de Clinton, o FBI confronta a candidata com um email que esta enviara em 2009, um dia após ter sido empossada, ao ex-secretário de Estado Colin Powell precisamente sobre o uso que este fazia de uma conta de e-mail pessoal. Segundo o New York Times, Powell advertiu Clinton que, se usasse o seu BlackBerry para assuntos oficiais, os e-mails poderiam tornar-se "registo oficial e sujeito à lei." Powell aconselhou Clinton a ser cautelosa: "Tenha muito cuidado. Contornei a questão ao não dizer muito e ao não utilizar sistemas que guardavam os dados".
Sobre o uso do email privado para discutir ataque de drones, a ex-secretária de Estado afirmou que "deliberações sobre um futuro ataque com drones não lhe levantaram preocupação com a classificação”, segundo o resumo do depoimento, citado pelo New York Times. Clinton entendeu este tipo de conversa como parte de um processo rotineiro de decisão”, lê-se no sumário, que acrescenta que a candidata se lembra de muitas conversas sobre futuros ataques que nunca chegaram a acontecer.
O advogado de Clinton, David Kendall, recusou comentar o teor dos documentos divulgados, mas a campanha fez uma declaração oficial. “Enquanto o uso de uma única conta de email foi claramente um erro e [a candidata] assumiu a responsabilidade por isso, estes materiais tornam claro porque o Departamento de Justiça considerou que não havia bases para levar este caso para a frente”, disse um porta-voz da campanha.
Os republicanos não demoraram a reagir em sentido oposto. O candidato Donald Trump afirmou num comunicado citado pelo Washinton Post, que as respostas de Hillary Clinton “desafiam a lógica”, considerando que as respostas de Clinton ao FBI estão “em contradição directa com o que ela disse ao povo americano”. “Depois de ler estes documentos, realmente não entendo como ela conseguiu escapar a uma acusação", rematou.
Citado pelo New York Times, o congressista do Utah, Jason Chaffetz, exige respostas sobre a destruição dos email. “Estes não são emails de Hillary Clinton – são registo do governo e isto é potencialmente uma das maiores violações de segurança no Departamento de Estado porque eles tiveram ao longo destes anos registos de segurança que simplesmente saíram pela porta”, afirmou Jason Chaffetz.
Apesar de Clinton não ter violado nenhuma lei, as regras da Administração Obama eram claras – os responsáveis dos vários departamentos deviam enviar e receber mensagens de trabalho apenas através dos seus endereços oficiais, por serem considerados mais seguros e para que fosse mais fácil preservar os e-mails após a sua saída dos cargos.
Mas Hillary Clinton optou por continuar a usar o sistema que estava instalado em Chappaqua, na sua versão por uma questão de conveniência pessoal. Os e-mails não eram trocados através dos servidores de uma empresa comercial (como o Gmail, por exemplo), nem através dos servidores do Departamento de Estado – tudo passava por servidores instalados fisicamente na mansão, vigiados por agentes dos serviços secretos.