Arquitetos brasileiros: as armadilhas da língua e a adaptação ao mercado

Trabalhar com arquitetura em Portugal tem sido um aprendizado para o casal Paula e Jadiel.

i-video

A chegada a Portugal trouxe desafios e oportunidades para os arquitetos brasileiros Paula Russo e Jadiel Tiago, que compartilham uma trajetória marcada na busca por adaptação e inovação. Vindos de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o casal se estabeleceu no país em 2020, em meio à pandemia, motivado pela oportunidade de Jadiel de iniciar um doutorado e pela conexão pessoal de Paula com Portugal, onde viveu parte da infância.

No entanto, exercer a profissão em terras lusitanas revelou diferenças marcantes em relação ao Brasil, que vão da língua, pois vários itens usados nas obras têm nomes diferentes nos dois países, à burocracia para aprovação de projetos nas câmaras municipais. Numa obra em um banheiro de uma casa, por exemplo, quase todos os materiais têm denominações diferentes. Chuveiro em Portugal é duche e descarga, autoclismo. Nada, porém, que atrapalhe o trabalho.

Segundo Paula e Jadiel, a tramitação de projetos em Portugal pode ser um obstáculo, com prazos que frequentemente se estendem por anos. "Há casos de projetos em Lisboa que demoraram quase 20 anos para aprovação", comenta Paula, citando um emblemático edifício escolar que enfrentou custos elevados e cortes no projeto original devido à demora. Eles destacam que esse problema atinge tanto grandes empreendimentos quanto pequenas reformas de imóveis no interior do país. Além disso, as regras e exigências podem variar significativamente entre municípios e até mesmo entre diferentes profissionais dentro de uma mesma instituição, dificultando a previsibilidade e planejamento.

A dupla também aponta diferenças culturais no mercado da construção, como a fragmentação dos serviços. "No Brasil, você contrata um prestador que faz tudo; aqui, cada etapa é dividida entre profissionais diferentes", explica Jadiel. A escassez de mão de obra especializada em algumas regiões e a demanda crescente por serviços de construção aumentam os desafios, exigindo planejamento detalhado e cronogramas mais longos. Apesar dessas dificuldades, Paula e Jadiel encontram espaço para inovação e aprendizado, além de oportunidades para explorar o potencial do mercado imobiliário português.

Para eles, superar os entraves burocráticos e melhorar a eficiência na aprovação de projetos seria um passo essencial para dinamizar o setor e atrair mais investimentos. Além disso, a pressão popular por melhorias urbanísticas, como maior acessibilidade e preservação de tradições arquitetônicas, pode ser uma força motriz para um futuro mais inclusivo e ágil na arquitetura portuguesa.