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Dentro de um fato maior do que o corpo

Uma curta residência artística despertou Augusto Brázio para os espaços militares de Tancos. É o início de um trabalho sobre a memória da guerra colonial e as paisagens que hoje a compõem.

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É muito raro ter a oportunidade de ver um ensaio de fotografia no estado inicial como aquele em que se encontra o trabalho de Augusto Brázio sobre espaços militares ainda em uso. Ao partilhar um grupo de imagens que já sugere uma ideia, mas que se apresenta apenas como o primeiro passo de um percurso maior, o fotógrafo arrisca ficar numa carta de intenções.

As residências artísticas têm, no entanto, a vantagem de sintonizar um criador num objectivo concreto e fornecer-lhe as condições para que um propósito seja concretizado, por mínimo que seja o ponto de partida. Foi essa oportunidade que Brázio soube aproveitar durante uma curta mas produtiva estadia, em Setembro deste ano, em Vila Nova da Barquinha a convite do município local e da Fundação EDP, juntamente com mais dois fotógrafos, Valter Vinagre e Nelson D’Aires. O desafio era pensar visualmente as diferentes configurações daquele concelho ribatejano. Augusto Brázio foi buscar uma memória latente do seu núcleo familiar relacionada com o polígono militar de Tancos e a guerra do Ultramar para dar início a um trabalho que pretende mostrar o que são agora, para que servem e como se transformaram estas instalações militares. Encontrou lugares que parecem desajustados à função, como um fato maior do que o corpo. “Não sou perito na matéria, mas dá para perceber que estes espaços estão hoje sobredimensionados. E este é um ponto muito importante do trabalho”, revelou o fotógrafo em conversa com a Revista 2.

A maneira como “a paisagem perdura e se ajusta a novos usos destes lugares” é outro dos focos de Brázio, que depois dos espaços militares quer olhar para outro tipo de ambientes relacionados com a guerra colonial, como as confraternizações de ex-combatentes, as marcas que ficaram nos seus corpos ou os centros de reabilitação. “Estou à espera de ser conduzido pelo andamento do trabalho.” Ou seja, Augusto Brázio é um daqueles fotógrafos que gostam de começar sem todas as certezas à partida.