Guimarães
A terra por quem a trabalha
Com O Trabalho, podemos ver o papel central do trabalho na vida de Guimarães, na transição do século XIX para o século XX.
São 89 fotografias com cenas de vindimas ou retratos de família em espaço rural feitos na alvorada da revolução republicana, imagens de oficinas de cutelaria ou de máquinas acabadas de chegar à indústria têxtil.
O que faz uma cidade? As ruas e quem as percorre? Os monumentos e quem os visita? Ou as fábricas e quem lá trabalha? As imagens não dão uma resposta a estas questões, mas lançam um outro olhar sobre a terra que foi Guimarães. O Trabalho na colecção fotográfica da Muralha é uma selecção de fotografias que têm como ponto comum o papel central do trabalho na vida da cidade, na transição do século XIX para o século XX.
Por aqui encontram-se cenas de vindimas ou retratos de família em espaço rural feitos na alvorada da revolução republicana, imagens de oficinas de cutelaria ou de máquinas acabadas de chegar à indústria têxtil algures nas décadas de 1930-40. Mas também salas de aula, que são o trabalho de alguém. Ao todo, são 89 fotografias — com selecção e concepção de Miguel Oliveira e Nuno Rocha Vieira — a partir da colecção da associação de defesa do património Muralha que é composta por 5646 clichês em vidro.
Um acervo tão longo pode ter várias formas de abordagem e este é um novo olhar sobre este corpo que já esteve na base de três exposições durante a Guimarães 2012. De resto, estas imagens — que passaram para a posse daquela instituição na década de 1980 — estiveram praticamente adormecidas durante 30 anos, até que o projecto Reimaginar Guimarães, coordenado por Eduardo Brito no âmbito da Capital Europeia da Cultura, resgatou esse acervo. As fotografias foram todas recuperadas e digitalizadas e é desse arquivo digital que a Muralha, em colaboração com a secção de fotografia do Cineclube de Guimarães, parte para esta exposição, que pode ser vista, até 25 de Setembro, em três lojas do centro comercial Guimarães Shopping que foram transformadas em galeria.
O autor da maior parte das fotografias da colecção é Domingos Alves Machado (1882-1957), proprietário das empresas de fotografia Foto Moderna e da sua antecessora Foto-Eléctrica Moderna, que entre os últimos anos do século XIX e o fim da primeira metade do século XX fotografou a cidade. Constituiu assim um diversificado acervo documental sobre vários aspectos da vida daquela época: as festas, os edifícios, as tradições, os ofícios, as fotografias de memória familiar.
Alves Machado fotografou até à década de 1940 em clichês de vidro, mesmo que a técnica já estivesse a perder força para o filme nessa altura — a Kodak já estava no mercado desde o final do século XIX e a Leica começou a tornar o filme de 35 milímetros o formato-padrão no início da década de 1920 — mas isso acaba por dar uma homogeneidade e uma solenidade ao acervo da Muralha de que esta selecção de fotografias sobre o trabalho é um exemplo feliz.