Formosa moura inspirou Alfredo Keil para compor valsa dedicada à Água Castelo

A moura Salúquia foi o tema escolhido pelo compositor do hino nacional para satisfazer um pedido feito da empresa que explorava a água mineral no concelho de Moura no início do século XX.Câmara de Moura reeditou agora a valsa em CD.

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Imagens usadas na capa do CD, as mesmas que acompanharam a publicação da partitura em 1905
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Partitura

É do conhecimento geral que Alfredo Keil (1850-1907) é o autor da música do hino nacional A Portuguesa. Contudo, é certamente mais restrito o universo daqueles que sabem ter sido ele que compôs, nos primeiros anos do século XX, a valsa Sallúquia, A Bella Moura sob o patrocínio da empresa Assis e Companhia, proprietária da marca “Água Castello”.

Santiago Macias, presidente da Câmara de Moura, assume que conheceu a composição de Alfredo Keil, só em 2009, durante uma cerimónia realizada pela secção de Moura do Conservatório Regional de Música do Baixo Alentejo. “Quando anunciaram que iam tocar a valsa da Água Castelo, fiquei surpreendido porque, para além de nunca ter ouvido a partitura de Keil do Amaral, não sabia que este a tinha composto”, admite o autarca. Depois de vários contratempos, a valsa dedicada a Sallúquia, A Bella Moura foi editada em CD e apresentada no passado dia 30 de Julho por ocasião das comemorações do 1.º aniversário da inauguração da exposição Água – Património de Moura: identificação de um concelho.

O contexto desta curiosa história começa em 1899, quando foi assinado entre a Câmara de Moura e a empresa Assis e Companhia o primeiro contrato de concessão para a exploração da água mineromedicinal da vila de Moura. A nascente localizava-se no castelo e aí se instalou a primeira fábrica da Água Castello, designação que continua a manter.

Na primeira década do século XX, a empresa começou a internacionalização da marca com a presença em diversas exposições. A informação facultada pela Câmara de Moura salienta que a Água Castello foi nomeada pelo rei D. Carlos como “Fornecedora da Minha Casa Real” em 13 de Abril de 1906 e, embora “sem vencimento algum pela Fazenda Real”, passava a poder “com este Título, colocar as Armas Reais Portuguesas nos rótulos, facturas e mais papéis comerciais que digam respeito às mesmas águas”.

Esse reconhecimento traduziu-se em prémios, medalhas e condecorações, nomeadamente pelo rei D. Luís. Este devia ser apreciador da obra do compositor “dado que o autor chegou a fazer apresentações musicais para o monarca”, refere a autarquia. A encomenda da obra, por parte da empresa Assis e Companhia, “poderá ter sido mais um passo nesse percurso de divulgação nacional e internacional da marca” e a contratação de Alfredo Keil para compor a valsa Sallúrquia a Bella Moura estará relacionada “com a aparente proximidade do autor à Casa Real”.

Alfredo Keil terá recebido encomendas da Casa Real para apresentações musicais e foi neste âmbito que a empresa Assis e Companhia lhe encomendou a composição da valsa, inspirada na lenda de Moura que data do século XII. A actual cidade da margem esquerda do Guadiana era, então, habitada por árabes e governada “por uma formosa moura”, de nome Salúquia, filha de Abu-Assan, conforme vem descrito em Portugal Lendário, de José Viale Moutinho.

A história que a envolve descreve a paixão da “bela moura” pelo alcaide de Arouche, chamado Bráfama. E, a partir daqui, desenrola-se o cenário dramático que sustentou, até aos dias de hoje, a lenda da moura Salúquia.

Na véspera da ansiada união entre os dois jovens apaixonados, Bráfama acompanhado da sua comitiva, dirigiu-se para o castelo governado pela sua amada. Sabendo dos preparativos, os irmãos Álvaro Rodrigues e Pedro Rodrigues, à frente de tropas cristãs, saíram-lhe ao caminho, mataram Bráfama, destroçaram a sua comitiva e tomaram as suas vestimentas.  

Disfarçados de cavaleiros árabes dirigiram-se para o castelo, onde Salúquia, pensando tratar-se do seu noivo, deu ordens para baixar a ponte levadiça. A surpresa da investida cristã permitiu uma rápida conquista do castelo. Apercebendo-se do logro, a jovem moura agarrou nas chaves da cidade e atirou-se de uma das torres da fortaleza, que ainda hoje tem o seu nome, a “Torre de Salúquia” e a terra o nome de Moura. O seu brasão de armas ostenta um escudo com um castelo, e junto à porta deste, uma mulher morta.

Foi este o tema que serviu de inspiração a Alfredo Keil para compor a valsa, provavelmente em 1905, que a Câmara de Moura acaba de editar, juntamente com as imagens que acompanharam a publicação da partitura nos primeiros anos do século XX. Esta “terá sido um dos últimos trabalhos” do compositor que veio a falecer em 1907, refere a autarquia.  

A partir de agora, o CD está à disposição de todos e “será mais um pequeno passo na promoção da cidade de Moura", assinalou Santiago Macias, realçando a importância de que se reveste a divulgação da composição de Alfredo Keil, “até pela carga simbólica e afectiva que uma tal edição comporta”, observa.

A valsa, interpretada por Mauro Dilema, pode ser ouvida no YouTube.

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