Impulsionados por preços cada vez mais baixos e pela velocidade com que a moda chega aos consumidores — fast fashion — compramos cada vez mais roupa e usamo-la menos vezes. Por ano, em todo o mundo são fabricadas 20 peças de roupa por pessoa. A indústria têxtil é considerada uma das mais poluentes, desde a produção, fabrico, transporte e uso (lavar, secar e engomar). Os impactos ambientais sentem-se sobretudo ao nível do consumo de água, da erosão dos solos, da emissão de CO2 e dos resíduos e desperdícios resultantes. E os impactos também são sociais.
O número de colecções aumentou de duas por ano (Primavera/Verão e Outono/Inverno) para 50 a 100 minicolecções
Consumo global da moda
Em milhões de toneladas
E em 2017 os europeus compraram 6,4 milhões de toneladas de roupas novas, o equivalente a 12,66kg por pessoa. A Agência Europeia do Ambiente estima que entre 1996 e 2012, a quantidade de roupas compradas por pessoa na UE aumentou 40%
A aquisição de roupa na União Europeia tem impactos noutras regiões do mundo: 85% do uso primário de matérias-primas, 93% do uso do solo e 76% das emissões de gases com efeito de estufa envolvidas na produção têxtil ocorrem fora da União Europeia. Os principais exportadores de roupa para a UE são a China, o Bangladesh, a Turquia, a Índia, o Camboja e o Vietname.
O ciclo de vida de uma peça de vestuário
Matérias-primas
ALGODÃO
O impacto ambiental das indústrias têxteis e de vestuário começa logo na produção das matérias-primas. O couro e as fibras naturais (seda, algodão, lã) são os materiais com maior impacto, mas o mesmo material pode ser mais ou menos nocivo para o ambiente, dependendo de o seu cultivo ser intensivo ou mais sustentável.
Produção mundial de algodão, em milhões de toneladas
POLIÉSTER
O poliéster, feito a partir de combustíveis fósseis, não é biodegradável. Além disso, o seu uso contribui para o aumento das emissões de CO2 logo na fase da extracção do petróleo.
A partir do ano 2000, o poliéster tornou-se no material favorito da fast fashion
(milhões de toneladas)
O poliéster é a fibra sintética mais utilizada no nosso vestuário
As fibras de poliéster são totalmente recicláveis e têm uma pegada hídrica inferior, quando comparadas com o algodão. O poliéster reciclado, feito principalmente de garrafas plásticas, aumentou de 8% em 2007 para 14% em 2017.
Solos e pesticidas
Apesar de a área global dedicada ao cultivo de algodão permanecer constante nos últimos 70 anos, a produção de algodão empobreceu e degradou o solo. Por ano são usadas 200 mil toneladas de pesticidas e 8 milhões de toneladas de fertilizantes, o que significa que produzir 1kg de algodão equivale ao uso de 0,35 a 1,5kg de químicos. Deste modo são contaminados solos, rios, lagos e aquíferos subterrâneos.
Em 2030 prevê-se que a população global sejam 8,5 mil milhões de pessoas. O aumento populacional exigirá um aumento da produção agrícola, o que pode resultar num conflito entre usar os solos para produzir matérias-primas para têxteis ou cultivar alimentos.
Agricultor apanha algodão num campo nos arredores de Hami situado na região autônoma de Xinjiang na China
O consumo e a poluição da água
A indústria têxtil gasta em média 93 mil milhões de metros cúbicos de água por ano, principalmente na produção de matérias-primas como o algodão, nas etapas de tingimento e secagem e durante o uso pelos consumidores.
Um quinto da poluição industrial da água tem origem na fase de tingimento e tratamento têxtil. As sobras do processo de tingimento são frequentemente despejadas em lagos, ribeiros ou rios.
O rio Citarum, na Indonésia, possui centenas de fábricas têxteis ao longo de sua margem e é o rio mais poluído do mundo. As comunidades que vivem ao longo do rio dependem dessa fonte de água, mas os fabricantes de roupas muitas vezes despejam os produtos químicos não tratados directamente no rio
Água contaminada com produtos químicos no rio Cihaur, um afluente do rio Citarum. CRÉDITOS: Andri Tambunam/Greenpeace
O elevado consumo de água para a produção têxtil aumenta o stress hídrico, especialmente em países produtores de vestuário, como Índia e China. O mar de Aral, na Ásia Central, é um exemplo do stress hídrico provocado pelo fabrico do algodão.
Mar Aral em 2000 e em 2018
Fotografias: NASA
Quantos litros de água estão numa T-shirt de algodão?
As emissões de CO2
A emissão de gases de efeito estufa ocorre nas várias fases do ciclo de vida de uma peça de roupa, desde a produção, transporte e uso (lavagem, secagem e engomagem).
Uma T-shirt de poliéster é responsável por cerca de duas vezes mais emissões de CO2, quando comparada com uma de algodão
Uma grande proporção da produção de roupas ocorre em países que dependem de fábricas movidas a carvão, aumentando a pegada de cada peça de vestuário.
A nível global, a indústria da moda é responsável por 10% de todas as emissões de CO2, o que representa mais emissões do que todos os voos internacionais e viagens de transporte marítimo juntos. Se nada mudar na indústria da moda, essa fatia de emissões poderá atingir os 26% até 2050, de acordo com um relatório de 2017 da Ellen MacArthur Foundation.
Produção de poliéster na indústria têxtil em 2015
O Banco Mundial estima que 20% da poluição industrial da água tenha origem nas fases de tingimento e tratamento têxtil
Microplásticos libertados pela roupa
A principal fonte de microplásticos nos oceanos é a libertação de fibras nos processos de lavagem de tecidos sintéticos. As pequenas fibras, ou microplásticos – com menos de 5 milímetros de comprimento, com diâmetros medidos em micrómetros (um milésimo de milímetro) – entram no esgoto e chegam ao oceano. Ainda não existem filtros suficientemente finos nem nas máquinas, nem nas estações de tratamento dos esgotos que possam impedir a passagem destas fibras – são normalmente de poliéster, polietileno, acrílico ou elastano.
A Europa e a Ásia Central despejam o equivalente a 54 sacos de plástico em microplásticos por pessoa e por semana nos oceanos.
Quantas fibras são libertadas nas lavagens?
Por lavagem (6kg) e por tecido
Ao chegarem ao meio aquático as microfibras podem ser prejudiciais tanto para a biodiversidade marinha como para os seres humanos, pois os peixes que comemos podem ter ingerido microplásticos.
Para onde vai a roupa que descartamos?
No Reino Unido, há 3,6 mil milhões de peças de roupa por vestir nos armários diz o relatório de 2017 Valuing Our Clothes: the Cost of UK Fashion. Em Portugal, a Agência Portuguesa do Ambiente indica que os portugueses deitam 200 mil toneladas de roupa para o lixo todos os anos.
Resíduos têxteis em Portugal, em 2017 (estimativa)
Em toneladas
Em 2030 estima-se que o nível total de resíduos de vestuário possa chegar aos 148 milhões de toneladas – equivalente ao desperdício anual de 17,5kg per capita em todo o planeta.
A cada segundo, no mundo, um camião de lixo de roupas é queimado ou enviado para aterros
As roupas feitas a partir de tecidos não biodegradáveis podem ficar nesses aterros até 200 anos. Apenas 20% das roupas são recolhidas para reutilização ou reciclagem. Menos de 1% de todos os materiais utilizados no fabrico da roupa são reciclados para fazer novas peças de roupa.
Rio Citarum na Indonésia. REUTERS/Dadang Tri
o Impacto social
Para ser competitiva e vender cada vez mais barato, a indústria têxtil localiza a sua produção em países com baixo custo de mão-de-obra e com leis laborais pouco exigentes. Vários relatórios têm revelado condições laborais precárias, insegurança no trabalho abusos e violência.
Top cinco dos produtos em 2017 provavelmente resultantes do trabalho escravo.
Valores de importação para os países do G20 em mil milhões de dólares americanos
Cerca de 75 milhões de pessoas trabalham na produção de roupas e os salários são muito diferentes entre homem e mulher. Na Índia, por exemplo, as mulheres enfrentam uma disparidade salarial de 39% em comparação com os homens para o mesmo emprego.
No mundo, as roupas são confeccionadas
sobretudo por mulheres jovens entre os 18 e os 24 anos
Salário mínimo mensal para trabalhadores da indústria têxtil em 2017 (dólares americanos em PPP)