Lixo em Portugal
O país num contentor de lixo
Retrato dos resíduos urbanos em Portugal
Quanto lixo produzimos em Portugal?
Em 2017 produzimos
5,07 milhões
toneladas de lixo
Em 2016 foram
4,89 milhões
toneladas de lixo
O equivalente ao peso de
125 estátuas do Cristo-Rei
Quanto lixo produz cada português num ano?
486kg/ano
Ou seja, um português
produz em média
1,33kg
de lixo por dia
O objectivo nacional era diminuir, até 2020, o lixo produzido por cada português em 10% face a 2012...
...mas, tirando os anos da crise (nos quais se inclui 2012), o nosso saco não pára de aumentar
Ou seja
Precisaríamos de reduzir em quase um quinto (18,6%) a quantidade de resíduos produzidos em apenas três anos (2018, 2019, 2020), para alcançar a meta estabelecida. Mas para isso precisaríamos de separar a curva do crescimento económico da curva de produção de lixo
O que implica alterar os nossos padrões de consumo…
O que pusemos no lixo?
Cerca de 70% dos resíduos que produzimos são recicláveis. E, 50,5%, cerca de metade do total, são RUB - resíduos urbanos biodegradáveis, se somarmos os biorresíduos, os verdes, o papel cartão e as embalagens de cartão para alimentos líquidos
Caracterização física dos RU produzidos em 2017
Mas reciclamos pouco...
Em 2017 apenas 38% dos resíduos recicláveis entraram em fluxos de preparação para reutilização e reciclagem. Enquanto se aguardam os resultados definitivos de 2018, o que sabemos é que não será fácil cumprir a meta de 2020, que implica aumentar aquela percentagem para 50%
% de resíduos que entraram em fluxos de preparação para reutilização e reciclagem
E, atenção: Portugal escolheu um critério menos exigente para aferir a evolução da reciclagem. A partir de 2025 a conta, em toda a União Europeia, é feita a partir do total de RU produzidos, recicláveis ou não. Nesse ano, teremos de reciclar 55% do total de resíduos produzidos. E em 2030 essa taxa passa para 60%, até chegar a 65% em 2035
E ainda abusamos do recurso a aterro
Os números de preparação para reciclagem são enganadores, porque, por motivos vários, parte dos resíduos que entram nos vários circuitos de valorização são rejeitados e acabam em aterro. Em 2017, a percentagem do lixo colocado directamente em aterro foi de 32%, mas esse acabou por ser o destino final de 57,4% dos resíduos produzidos no país. E em 2035 a UE quer todos os países a pôr em aterro não mais do que 10% dos respectivos resíduos urbanos
Evolução dos destinos finais dos resíduos urbanos
Em milhões de toneladas
E em 2035 a UE quer todos os países a pôr em aterro não mais do que 10% dos respectivos resíduos urbanos
Na verdade, a reciclagem não ultrapassou os 20%
Destinos finais dos resíduos urbanos, em 2017
A reciclagem é o somatório dos resíduos reciclados e compostados/valorizados organicamente. A incineração e o aterro, principalmente, são destinos de fim de linha, que a UE quer minimizar
E vai para aterro demasiado resíduo biodegradável
Portugal tinha estabelecido no Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos - PERSU 2020 uma meta, para aquele ano, de deposição em aterro de não mais de 35% dos resíduos urbanos biodegradáveis (RUB) que produzimos e que são mais de metade do total do lixo que fazemos
Os dados de 2017 foram maus neste indicador e será preciso que os resultados de 2018, 2019 e 2020 melhorem bastante, para se alcançar a meta
Deposição de RUB em aterro face a 1995
Nos RUB há demasiada comida desperdiçada
A nível nacional, o PERDA* (Projecto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar) conseguiu estimar que cerca de 17% das partes comestíveis dos géneros alimentícios produzidos para consumo humano são perdidas ou desperdiçadas em Portugal, ao longo de toda a cadeia alimentar até chegar ao consumidor
Perdas alimentares em Portugal
Valores anuais na cadeia de aprovisionamento em Portugal
* usando a mesma metodologia utilizada num estudo da FAO
Em 2023 todos os países da UE terão de ter a funcionar sistemas de recolha selectiva de resíduos orgânicos, incrementando a produção de composto a partir de lixo doméstico
E o que fazemos à roupa velha?
E o que é lixo, então?
Com as novas exigências comunitárias, em 2035 cerca de 80% dos resíduos sólidos urbanos que produzimos serão classificados como recicláveis
A incineração e, em última linha, o aterro são os destinos possíveis para a fracção restante, e, face às metas previstas, as empresas de gestão de resíduos em Portugal querem chegar a 2035 a reciclar 65% e a valorizar energeticamente, em centrais de incineração, os restantes 35%. A opção pode não contar com fundos comunitários, se prevalecer a vontade da Comissão e do Parlamento Europeu, que preferem financiar mais a reciclagem
De qualquer forma, a expectativa é que, numa economia cada vez mais circular, seja cada vez maior a incorporação de materiais recuperáveis nos produtos que consumimos e que necessitemos menos ainda de incinerar/enterrar resíduos
Ou seja, em data ainda não anunciada, o lixo, como o conhecemos, deixará mesmo de existir
FICHA TÉCNICA
Infografia: Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Francisco Lopes e José Alves; Texto: Abel Coentrão; Ilustração: Gabriela Gómez