O que pusemos no lixo?
Cerca de 70% dos resíduos que produzimos são recicláveis. E, 50,5%, cerca de metade do total, são RUB - resíduos urbanos biodegradáveis, se somarmos os biorresíduos, os verdes, o papel cartão e as embalagens de cartão para alimentos líquidos
Caracterização física dos RU produzidos em 2017
Mas reciclamos pouco...
Em 2017 apenas 38% dos resíduos recicláveis entraram em fluxos de preparação para reutilização e reciclagem. Enquanto se aguardam os resultados definitivos de 2018, o que sabemos é que não será fácil cumprir a meta de 2020, que implica aumentar aquela percentagem para 50%
% de resíduos que entraram em fluxos de preparação para reutilização e reciclagem
E, atenção: Portugal escolheu um critério menos exigente para aferir a evolução da reciclagem. A partir de 2025 a conta, em toda a União Europeia, é feita a partir do total de RU produzidos, recicláveis ou não. Nesse ano, teremos de reciclar 55% do total de resíduos produzidos. E em 2030 essa taxa passa para 60%, até chegar a 65% em 2035
E ainda abusamos do recurso a aterro
Os números de preparação para reciclagem são enganadores, porque, por motivos vários, parte dos resíduos que entram nos vários circuitos de valorização são rejeitados e acabam em aterro. Em 2017, a percentagem do lixo colocado directamente em aterro foi de 32%, mas esse acabou por ser o destino final de 57,4% dos resíduos produzidos no país. E em 2035 a UE quer todos os países a pôr em aterro não mais do que 10% dos respectivos resíduos urbanos
Evolução dos destinos finais dos resíduos urbanos
Em milhões de toneladas
E em 2035 a UE quer todos os países a pôr em aterro não mais do que 10% dos respectivos resíduos urbanos
Na verdade, a reciclagem não ultrapassou os 20%
Destinos finais dos resíduos urbanos, em 2017
A reciclagem é o somatório dos resíduos reciclados e compostados/valorizados organicamente. A incineração e o aterro, principalmente, são destinos de fim de linha, que a UE quer minimizar
E vai para aterro demasiado resíduo biodegradável
Portugal tinha estabelecido no Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos - PERSU 2020 uma meta, para aquele ano, de deposição em aterro de não mais de 35% dos resíduos urbanos biodegradáveis (RUB) que produzimos e que são mais de metade do total do lixo que fazemos
Os dados de 2017 foram maus neste indicador e será preciso que os resultados de 2018, 2019 e 2020 melhorem bastante, para se alcançar a meta
Deposição de RUB em aterro face a 1995
Nos RUB há demasiada comida desperdiçada
A nível nacional, o PERDA* (Projecto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar) conseguiu estimar que cerca de 17% das partes comestíveis dos géneros alimentícios produzidos para consumo humano são perdidas ou desperdiçadas em Portugal, ao longo de toda a cadeia alimentar até chegar ao consumidor
Perdas alimentares em Portugal
Valores anuais na cadeia de aprovisionamento em Portugal
* usando a mesma metodologia utilizada num estudo da FAO
Em 2023 todos os países da UE terão de ter a funcionar sistemas de recolha selectiva de resíduos orgânicos, incrementando a produção de composto a partir de lixo doméstico
E o que fazemos à roupa velha?
E o que é lixo, então?
Com as novas exigências comunitárias, em 2035 cerca de 80% dos resíduos sólidos urbanos que produzimos serão classificados como recicláveis
A incineração e, em última linha, o aterro são os destinos possíveis para a fracção restante, e, face às metas previstas, as empresas de gestão de resíduos em Portugal querem chegar a 2035 a reciclar 65% e a valorizar energeticamente, em centrais de incineração, os restantes 35%. A opção pode não contar com fundos comunitários, se prevalecer a vontade da Comissão e do Parlamento Europeu, que preferem financiar mais a reciclagem
De qualquer forma, a expectativa é que, numa economia cada vez mais circular, seja cada vez maior a incorporação de materiais recuperáveis nos produtos que consumimos e que necessitemos menos ainda de incinerar/enterrar resíduos
Ou seja, em data ainda não anunciada, o lixo, como o conhecemos, deixará mesmo de existir