Exposição
Um mergulho no interior de sete prisões portuguesas
Um projecto fotográfico sobre prisões em exposição numa prisão: esta é a premissa do The Portuguese Prison Photo Project, desenvolvido pelos fotógrafos Luís Barbosa e Peter M. Schulthess. O projecto luso-suíço faz o retrato de sete estabelecimentos prisionais portugueses e está em exposição no Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, em Lisboa — que funcionou, durante o Estado Novo, como prisão política da PIDE —, até 29 de Setembro. A primeira exposição aconteceu em 2017, precisamente numa antiga cadeia portuguesa, para o qual foi pensado: a Cadeia da Relação do Porto, actual Centro Português de Fotografia
Os sete estabelecimentos prisionais que os fotógrafos documentaram — Guarda, Leiria, Viseu, Lisboa, Carregueira, Santa Cruz do Bispo e Izeda — são, hoje, a casa de mais de 3000 pessoas. “Para mim, fotografar nestes espaços foi um processo muito emotivo”, descreve, em entrevista ao P3, o portuense Luís Barbosa. “Debrucei-me mais sobre o lado humano do cárcere: o quotidiano, as vivências e os hábitos; o Peter, que é especialista em fotografia de prisões, preferiu uma abordagem mais arquitectónica, privilegiando o rigor, a escala”, explica, sublinhando o efeito de complementaridade dos distintos olhares. O suíço fotografou, a cores, quatro prisões de maior dimensão; o português optou pelo preto e branco e visitou três prisões regionais. “Este é um projecto que me cativou desde o início. Sempre gostei da ideia de a fotografia ser uma forma de prisão temporal, espacial; afinal, encerra tempo e espaço num suporte. Desse modo, expor fotografia sobre prisões em antigas prisões ganha uma pungência ainda mais forte.”
Apesar de terem pedido o acesso a 12 estabelecimentos prisionais portugueses, apenas sete lhes garantiram o acesso. E por breves e controlados períodos. “Gostaria de ter tido oportunidade de pernoitar na cadeia, de mergulhar mais profundamente nesta experiência, mas tive apenas três manhãs para criar todo este corpo de trabalho”, confessa, referindo-se às 43 imagens que produziu para The Portuguese Prison Photo Project. “As medidas de segurança a que fui sujeito à entrada de cada estabelecimento — que eram, claro, necessárias –—deixavam bem claro que eu era um intruso naquele mundo”, motivo pelo qual o processo de imersão se viu algo comprometido.
Desde a maior e mais antiga prisão — a de Lisboa, que data de 1880 — até à mais recente, em Santa Cruz do Bispo, que abriu em 2004, passando por prisões masculinas, femininas, juvenis, The Portuguese Prison Photo Project reúne imagens daquilo que o site do mesmo anuncia ser, “aproximadamente, um quarto de todos os locais de detenção do país”. Aponta também para o facto de Portugal sofrer de um fenómeno de sobrelotação dos estabelecimentos. “O nível de ocupação no final de 2016 atingia uma média de 109% [tendo por base de cálculo a capacidade oficial de lotação], chegando a 170% em algumas prisões”, pode ler-se no mesmo sítio.
No futuro, a ideia é que o projecto se estenda a outros países — e a Suíça apresenta-se como o mais previsível destino do novo grupo de fotógrafos. Em paralelo, a organização busca apoios para a edição do fotolivro referente à realidade portuguesa.