Aborto: métodos “ancestrais, ilegais e perigosos” ainda matam 47 mil mulheres

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"Em circunstâncias normais, uma mulher ficaria grávida 15 vezes ao longo da vida", introduz Laia Abril, autora do projecto e fotolivro On Abortion, editado recentemente pela Dewi Lewis. "Dessas 15 gravidezes resultariam apenas dez nascimentos e apenas sete desses dez bebés conseguiriam chegar à idade adulta." O primeiro registo que existe referente a controlo de natalidade data de 1850 antes de Cristo. O conteúdo de um relatório elaborado por um ginecologista do Antigo Egipto refere como método contraceptivo a introdução de folhas de acácia, mel e mesmo pedaços de tecido no interior da vagina, de forma a bloquear a entrada de esperma para o útero. O mesmo relatório dava conta de uma elevada taxa de infanticídios que ocorriam à nascença. Mais tarde, na Antiga Grécia, perto de 500 antes de Cristo, a planta sílfio foi colhida até à extinção pelas suas propriedades contraceptivas. “Ao longo dos séculos, as pessoas procuraram sempre formas de retardar a gravidez ou de terminá-la”, refere a fotógrafa e artista visual espanhola. "Hoje existem métodos seguros e eficientes para induzir um aborto, mas, ainda assim, mulheres de todo o mundo continuam a recorrer a métodos ancestrais, ilegais e perigosos, o que faz com que cerca de 47 mil mulheres morram, anualmente, em consequência de intervenções de interrupção voluntária da gravidez mal-sucedidas.”

Lei. Religião. Pressão social. “Milhões de mulheres, em redor do mundo, ainda vêem negado o acesso ao aborto. São forçadas a manter a gravidez até ao termo contra vontade, mesmo quando são menores ou vítimas de violação, mesmo quando não é viável ou representa um risco para a saúde.”

Com o projecto On Abortion, que pertence a uma série intitulada A History of Misogyny, a artista de Barcelona pretende “documentar e conceptualizar os perigos e os danos decorrentes da falta de acesso livre, legal e gratuito ao aborto”. O fotolivro é composto por retratos de mulheres que, ilegalmente, fizeram um aborto – acompanhados dos seus testemunhos – e por imagens de instrumentos utilizados por mulheres ou por clínicas ilegais ao longo da história. “Debruça-se sobre o passado para salientar a longa e contínua erosão daquilo que é a reprodução feminina até aos dias que correm, levantando questões sobre ética e moral, para revelar o estigma e tabu que se mantêm invisíveis.”

No seguimento de On Abortion, Laia prepara On Rape Culture, que se irá debruçar sobre o tema da cultura da violação. A fértil carreira da fotógrafa deu origem, em 2014, ao webdoc Asexuals, sobre pessoas que não sentem atracção sexual.

©Laia Abril
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