Itália: o “purgatório” do migrante africano na UE

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Na região de Veneto, em Itália, vivem provisoriamente milhares de refugiados oriundos de países da África subsaariana; todos eles trilharam as arriscadas rotas do Mediterrâneo ou dos Balcãs para chegarem à Europa, fugindo de situações de guerra, perseguição étnica, política, religiosa ou, simplesmente, em busca de um futuro melhor. O arquitecto e fotógrafo italiano Andrea Ferro visitou mais de vinte centros de acolhimento para refugiados da região e registou o quotidiano deste grupo de indivíduos, assim como o seus sonhos, esperanças e memórias. Nos centros de acolhimento, "todas as histórias são diferentes, embora similares". Ao P3, o fotógrafo confessou ter pensamentos e questões recorrentes durante o período de mais de um ano em que realizou o projecto No Promised Land. "Que direito tenho eu de estar aqui [nestas residências]? Quem sou eu para eles? Qual é realmente o meu papel em tudo isso?" Sente, apesar das questões que se coloca, "o dever de contar as suas histórias".

 

Em Itália, o número de requerentes de asilo foi, em 2017, de acordo com dados da Eurostat, o segundo mais alto da Europa, com uma média de 11,6 mil pedidos mensais — ultrapassado apenas pela Alemanha, que regista uma média de 15 mil. "Eles não estão em Itália por opção, mas sim devido à legislação que está em vigor dentro da Comunidade Europeia,  que estabeleceu que um migrante é obrigado a apresentar um pedido de asilo no primeiro país da União Europeia (UE) onde chega. O objectivo é evitar que o mesmo requerente faça mais do que um pedido de asilo em vários países europeus." Por esse motivo, até ser determinado o estatuto do migrante, este está proibido de abandonar o país, o que o coloca numa situação de constrangimento geográfico e o impede de perseguir o seu verdadeiro objectivo.

 

Os que obtêm estatuto de refugiado na UE — uma minoria dos requerentes — adquirem o direito de mover-se livre e legalmente dentro do espaço comunitário. Aqueles a quem é recusado o estatuto é dada ordem de deportação — e a única forma de evitá-la é pedindo recurso sobre a decisão das entidades, o que mantém os migrantes indefinidamente encurralados no país de acolhimento. "Há muitos migrantes económicos a entrar na Europa", diz. A rejeição automática dos pedidos de permanência "deixa claro que existem migrantes de classe A e de classe B".

 

"O resultado deste trabalho, que comecei a desenvolver há mais de um ano, já é representativo de uma realidade territorial, a veneziana", explicou ao P3. Este é um trabalho "infinito" que Andrea Ferro tenciona perseguir no futuro, a nível nacional e internacional.