Vice-chanceler alemão garante que negociações do TTIP “fracassaram”
Sigmar Gabriel afirmou neste domingo que ninguém quer admitir que o acordo de parceria entre a União Europeia e os Estados Unidos não está a avançar como previsto.
O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, garantiu neste domingo que as negociações da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla inglesa) “fracassaram”. Numa entrevista à estação de televisão estatal ZDF, que será transmitida ao início da noite, o também ministro da Economia da Alemanha criticou as “exigências” feitas pelos Estados Unidos à Europa.
“As negociações com os Estados Unidos fracassaram efectivamente porque nós, os europeus, não podemos sucumbir às exigências deles”, afirmou, de acordo com a transcrição publicada no site da ZDF e citada na imprensa internacional. Sigmar Gabriel referiu ainda que “nada avançou” no acordo transatlântico, “apesar de ninguém o admitir”.
Estas declarações vêm esfriar a já de si frágil expectativa de que o TTIP possa chegar a bom porto, muito menos até ao final deste ano, como se chegou a prever e como se pretende em Washington e Bruxelas, fazendo coincidir o desfecho do acordo com o fim da administração Obama.
As negociações tiveram início em 2013 e, só nos últimos seis meses, houve três rondas para limar arestas, a última das quais em Julho. Na entrevista, o vice-chanceler alemão adianta que, nesta última ronda (a 14.ª) não houve qualquer entendimento sobre os 27 temas que estavam em discussão, escreve o The Independent.
O mesmo jornal refere ainda que Sigmar Gabriel criticou o facto de o acordo que está a ser negociado entre a Europa e o Canadá (o Acordo Económico e Comercial Global – ou CETA, na sigla em inglês) apresentar condições mais favoráveis para ambas as partes do que o TTIP. No que diz respeito ao CETA, o ministro da Economia da Alemanha mostrou-se mais confiante de que será aprovado.
Todos os Estados-membros terão de dar, nos parlamentos nacionais, luz verde ao acordo com o Canadá. Foi esta a decisão tomada face à pressão que estava a ser exercida, tanto pela Alemanha como pela França, recorda a AFP.
Já o panorama para o TTIP parece um pouco mais negro, neste momento. Além do “Brexit” (já que o Reino Unido era visto como um dos maiores apoiantes da parceria transatlântica), outros dois factores têm pesado contra o sucesso da parceria entre a Europa e os Estados Unidos: a forte oposição dos cidadãos e as críticas endereçadas por França.
Em Maio, o Presidente francês, François Hollande, chegou mesmo a afirmar que “jamais aceitaria” o acordo como vinha sendo negociado. No início de Julho, o secretário de Estado francês do Comércio Externo, Mathias Fekl, considerou “impossível” fechar o TTIP até final deste ano.
O governante, que tem acompanhado as negociações, acrescentou que a Europa estava à espera de receber “propostas sérias” por parte dos Estados Unidos. “Numa negociação, não há nada pior do que dizer que temos de concluir o processo a qualquer preço”, disse, acrescentando que é preferível “ter um bom acordo, um acordo exigente com coisas positivas para o emprego em França e para os trabalhadores”.
Um estudo da consultora holandesa Ecorys, divulgado em Maio, conclui que, depois de implementado na totalidade, em 2030, o acordo comercial vai gerar uma diferença de 0,5% no Produto Interno Bruto da União Europeia. Isto num cenário descrito como “ambicioso”.
Por Portugal, e face à pressão feita pelo PCP para que as “ameaças” do acordo comercial entre a Europa e os Estados Unidos fossem debatidas, o primeiro-ministro admitiu, em Maio, que há pontos que têm de ser revistos por penalizarem alguns sectores económicos. António Costa especificou, na altura, que uma das preocupações é que não sejam postos em causa o ambiente, a segurança alimentar ou a saúde pública.