Fim dos voos a partir do Porto gera onda de críticas à nova administração da TAP
Denúncia feita por Rui Moreira, sobre a intenção da TAP de cancelar voos de longo curso a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro mereceu críticas de empresários e até de um membro do Governo.
As reacções vieram de vários quadrantes, inclusive, de membros do Governo. A TAP garante que nada está decidido e que continua a vender os voos de longo curso que saem do aeroporto do Porto. Mas a informação “credível” denunciada pelo presidente da câmara, Rui Moreira, sobre a intenção da nova administração de cancelar as ligações mereceu crítica dos presidentes da Associação Empresarial de Portugal (AEP) e da Associação de Comerciantes do Porto. Até o novo secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, também presidente da Federação Distrital do PS, se referiu à alegada decisão como “grave prejuízo nacional”.
Esse cancelamento, considera o governante, "não apenas colocaria em causa os legítimos interesses de múltiplas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, como também o próprio equilíbrio no desenvolvimento regional no país”. Menos surpreendido mostrou-se o presidente da AEP, Paulo Nunes de Almeida, que considera que "a TAP há muito tempo que abandonou o Norte do país, especialmente, nas ligações para muitos destinos", lamentou, sublinhando que "mais grave do que isso é que reduziu drasticamente as ligações Porto-Lisboa", obrigando muitas vezes os empresários a perderem um dia nas ligações entre as duas cidades portuguesas.
Pelo seu turno, o presidente da Associação Comercial do Porto, Nuno Botelho, disse que ia pedir esclarecimentos à nova administração da TAP. "Os interesses de Portugal só são importantes quando se fala de Lisboa. Só é pena que tenhamos andado tanto tempo a discutir a importância nacional da TAP, a discutir se valia a pena privatizar ou não a TAP, salvar ou não a TAP e a TAP comporta-se como uma normal empresa que não acautela os interesses nacionais", disse o dirigente.
As críticas multiplicaram-se, mas a ameaça mais audível veio mesmo do presidente da Câmara Municipal do Porto, que foi quem colocou o assunto na ordem do dia. “Se pretendem abandonar a cidade do Porto e o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, então nós também poderemos abandonar a TAP”, avisou Rui Moreira, em declarações aos jornalistas à margem da reunião camarária. “O meu dever é informar os accionistas da TAP, que estão neste momento a desenvolver um plano estratégico, que devem olhar para esta região e perceber que esta região pode estar com a TAP ou pode não estar com a TAP”, ameaçou o autarca, que no passado, e com outras funções (na Associação Comercial do Porto), também já se envolveu em verdadeiras “guerras” contra a integração do Porto de Leixões numa holding portuária, ou na falta de prioridade dada à linha ferroviária de mercadorias entre Aveiro e Salamanca.
Fonte oficial da TAP reiterou que nada está decidido e que os voos de longo curso continuam abertos e com as vendas a realizarem-se. Actualmente sai do aeroporto do Porto apenas um voo de longo curso por dia: duas ligações semanais para Nova Iorque, Rio de Janeiro e São Paulo e uma por semana para Caracas. Caso se concretize a intenção de os cancelar, avisa Rui Moreira, “o Porto terá de se preparar para encontrar outros operadores interessados no longo curso ou perceber qual o hub [plataforma de transbordo de passageiros] mais conveniente para a região”. E o autarca citou o recentemente anunciado reforço da Turkish Airlines, que pode transformar Istambul num hub prioritário para destinos do Médio Oriente e Oriente, e falou também do exemplo de Madrid, onde há muitas ligações para a América do Sul, e que, afinal, fica à mesma distância de Lisboa a partir do Porto. “Não estamos a falar só de turismo. Estamos a falar de negócios”, frisou o presidente da Câmara.
Quando, há 18 dias, os novos accionistas da TAP, membros do consórcio Atlantic Gateway, Humberto Pedrosa e David Neeleman se reuniram com os trabalhadores, a questão sobre a importância do Porto foi a primeira a ser colocada pelos funcionários. Respondeu, então, David Neeleman que tinha ficado muito impressionado com o grande número de aviões de companhias low-cost que existem no Porto, e que as ligações que a TAP opera a partir do Sá Carneiro estavam ainda “a ser muito bem estudadas”. Mas deixou, de imediato, duas certezas. Que há poucos voos entre Porto e Lisboa - “Queremos que haja pelo menos um por hora, e nos picos de tráfego de meia em meia” - e que “tudo o que possa ser fortalecido em Lisboa é bom, mas o Porto é muito importante para a TAP também”.
Para já, uma das decisões que está tomada e que foi conhecida esta quarta- feira é o reforço bilateral do code-share entre a TAP e a Azul, permitindo à companhia portuguesa oferecer, em voos identificados com o seu próprio código, mais de 20 destinos no Brasil servidos pela rede doméstica da Azul, e à Azul disponibilizar serviços identificados com o seu código nos voos da TAP nos seus 12 pontos de entrada.
Reagindo às declarações de Rui Moreira, e num comunicado enviado às redacções, a estrutura Sindical da TAP, achou pertinente lembrar que o autarca “pertence ao grupo de apoiantes deste processo de privatização da TAP, e foi sempre um dos seus grandes defensores”, e um dos grandes impulsionadores do crescimento da Ryanair no aeroporto do Porto. E consideram que esta opinião “peca, apenas, por ter vindo demasiado tarde”. Com Ana Brito