Preço do leite não pára de cair e produtores preparam protesto

Agricultores reclamam regresso das quotas de leite. Marcha de tractores em Estarreja contra a crise agendada para terça-feira.

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Produtores já organizaram vários protestos desde o ano passado devido à queda dos preços e o fim das quotas leiteiras Nelson Garrido

A crise no sector do leite, com a queda sucessiva dos preços de mês para mês, vai levar os produtores para a rua em protesto em Estarreja, terça-feira de manhã, para reclamar a reposição das quotas leiteiras na União Europeia.

Em Portugal, o preço do leite não pára de descer e, em Junho, voltou a recuar em termos homólogos, caindo 5% em relação a Junho do ano passado, com o valor médio a ficar-se pelos 27,4 cêntimos por litro, segundo o observatório do leite da Comissão Europeia. Um ano antes, quando já se fazia sentir o impacto do fim das quotas, o preço médio estava nos 28,79 cêntimos e, pela mesma altura em 2014, chegava aos 34,34 cêntimos.

A pressionar o sector está o fim do sistema de quotas (desde Abril do ano passado), a juntar ao embargo russo aos produtos alimentares de origem europeia, à diminuição do consumo e ao aumento da produção fora da Europa.

Na União Europeia (UE), onde a queda dos preços chegou a 14% em Junho face a igual período de 2015, o valor médio do preço do leite está nos 25,81 cêntimos. Em Portugal, o mercado apresenta um recuo nos preços há 22 meses, em termos homólogos. É assim desde Setembro de 2014 até Junho passado. Na comparação em cadeia, também se têm vindo a registar recuos, o que voltou a acontecer em Junho, com uma descida de 0,7% em relação a Maio. Este ano, só houve um mês em que o preço subiu face ao anterior.

A regulação pública da produção é uma das bandeiras reclamadas pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação Portuguesa de Produtores de Leite e Carne (APPLC), que agendaram para amanhã em Estarreja (distrito de Aveiro) uma marcha lenta de tractores, que vai passar em frente a alguns hipermercados do concelho.

João Dinis, dirigente da CNA, fala numa “crise muito violenta e prolongada” onde a resposta da UE é uma “migalha que não resolve o problema” dos produtores portugueses. Defendendo a necessidade de “repor um sistema de controlo da produção”, o responsável diz que “está por provar a vontade política do ministro da Agricultura” em relação a esta matéria.

Em Outubro foi lançada a linha de 50 milhões de euros para apoiar os produtores de leite de vaca e produtores de carne de porco, com juros bonificados, mas só em Dezembro deste ano serão feitos os primeiros pagamentos.

Outra linha de crédito criada pelo Governo em Junho prevê dez milhões de euros de financiamento para ajudar as empresas a suprirem as dificuldades de tesouraria e mais dez milhões para problemas de endividamento e reestruturação de dívidas aos bancos. Neste pacote, cada beneficiário pode receber, no máximo, 15 mil euros durante “um período de três exercícios financeiros”.

De Bruxelas, Portugal vai receber quatro milhões de euros de ajuda ao sector – de um pacote europeu de 350 milhões de euros a nível europeu –, medida que se junta ao pacote de apoio à redução voluntária da produção de leite e aos incentivos ao armazenamento de leite em pó desnatado (para reduzir a oferta de leite cru). “É uma medida que deixa muitas dúvidas sobre o seu resultado. Quem deve reduzir a produção é quem contribui para o seu aumento”, diz, por seu lado, Carlos Neves, da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), referindo-se aos países excedentários.

Os produtores de leite defendem que o país não precisa de baixar a sua produção tendo em contas as necessidades de consumo, defendendo que haja uma acção europeia para serem os países excedentários a reduzir a produção.

A APROLEP não integra a manifestação desta terça-feira, mas diz estar de acordo com o protesto, que Carlos Neves, presidente da direcção, apoia e considera “perfeitamente oportuno”. Em relação às linhas de financiamento, o dirigente diz que “o crédito bonificado é empurrar a bola para a frente”. “O que mais me preocupa é o endividamento das explorações, tanto no banco como nos fornecedores”, sublinha.

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