O criador das bitcoin é um japonês de 64 anos?
Um artigo da revista Newsweek diz que encontrou Satoshi Nakamoto em Los Angeles. Mas este continua a garantir que nunca esteve envolvido no projecto de divisa digital.
Nascido no Japão há 64 anos, agora a viver numa casa modesta em Los Angeles, EUA, com uma carreira envolta em algum mistério na engenharia e adepto entusiasta de modelos de comboios. Será este o perfil de Satoshi Nakamoto, o enigmático criador da divisa digital Bitcoin?
A revista Newsweek diz que sim. Num artigo publicado esta quinta-feira, a autora Leah McGrath Goodman diz ter encontrado na Califórnia o homem que criou a complexa fórmula matemática em que assenta a bitcoin e que permanecia como uma figura enigmática mesmo para os responsáveis máximos do projecto de divisa digital.
A ser verdadeira a descoberta, Nakamoto não tem o perfil por muitos imaginado de jovem génio matemático, a aproveitar as riquezas obtidas pela sua invenção sob a aura misteriosa de um pseudónimo. Afinal, diz a Newsweek, Satoshi Nakamoto chama-se mesmo Satoshi Nakamoto (embora tenha passado a usar o nome Dorian), tem mais de 400 milhões de dólares em bitcoin nas drives dos seus computadores e vive modestamente com a sua família num bairro de classe média de Los Angeles. É um engenheiro e matemático que chegou aos EUA com a sua mãe em 1959 e que trabalhou para empresas fornecedoras de material militar ao exército dos Estados Unidos como a Hughes Aircraft. Sempre foi, dizem os familiares e amigos, muito reservado a falar do seu trabalho. Começou a ser descoberto pela Newsweek a partir de emails que enviava para um produtor de modelos de comboios, um hobby que parece ocupar muito do seu tempo e atenção.
Para já, o Satoshi Nakamoto descoberto pela Newsweek não assume que é o criador das bitcoins. No artigo, a revista sustenta a sua afirmação com declarações do irmão de Sakamoto que dão a entender que Satoshi (ou Dorian) teria as capacidades e qualificações para lançar uma criação com um grau de inovação e complexidade matemática como a bitcoin. E, principalmente, apresenta declarações do próprio Dorian Satoshi Nakamoto, conseguidas com dificuldade à porta de sua casa e depois deste já ter chamado a polícia, em que é feita uma aparente “confissão”. “Já não estou envolvido nisso e não posso discutí-lo. Isso foi entregue a outras pessoas, elas é que estão à frente disso. Já não tenho qualquer ligação”, afirmou, quando questionado pela jornalista sobre o seu envolvimento no projecto bitcoin.
Esta quinta-feira ao final do dia, já depois do artigo ter sido publicado e com a sua casa cercada por dezenas de jornalistas, Dorian Satoshi Nakamoto contrariou a versão publicada pela revista norte-americana, continuando a não assumir a paternidade da divisa digital. Quando saiu da casa, afirmou que não estar envolvido no projecto bitcoin. “Não sei nada acerca disso”, disse, afirmando apenas ter ouvido falar das bitcoin há três semanas, quando o filho, a pedido da Newsweek lhe perguntou se queria responder às questões colocadas pela revista. Depois, numa entrevista à agência Associated Press, explicou que foi mal entendido quando disse à jornalista da Newsweek que “já não estava envolvido nisso”. “O que eu estava a dizer que é que já não estava envolvido em engenharia, é isso. E mesmo que estivesse, quando uma pessoa é contratada, tem que assinar um documento dizendo que não vai revelar nada do que foi feito durante e depois do trabalho. Era isto que eu queria dizer”, justificou.
Na comunidade bitcoin, esta revelação do criador da divisa foi recebida com recebida com muito cepticismo. No seu website, a Fundação Bitcoin, uma entidade que tenta promover a utilização da divisa, escreveu “não ter visto qualquer prova conclusiva de que a pessoa identificada seja o criador da bitcoin”. E em diversos blogues chamava-se a atenção para a diferença da qualidade da escrita dos textos escritos pelo criador da bitcoin e os (poucos) textos públicos disponíveis de Dorian Satoshi Nakamoto. E para aumentar o mistério, num chat sobre as bitcoins que o original Satoshi Nakamoto usou até 2009 para explicar o projecto e do qual estava desaparecido, apareceu uma nova mensagem a dizer: "Eu não sou Dorian Sakamoto".
Leah McGrath Goodman, a autora do artigo que fez capa no esperado relançamento da Newsweek, mantém a sua versão. “Não houve qualquer confusão sobre o contexto da nossa conversa e sobre o reconhecimento do seu envolvimento na bitcoin”, afirma.