Santos e o “diabo” Éder
Portugal (4x1x3x2) entrou com medo, as pernas tremiam e os passes saíam mal direccionados. Com Fonte escondido na saída de bola e Pepe inábil nesse momento inicial de organização, somente os laterais tiveram critério. Cédric encontrou Nani em passes longos bem direccionados e Raphaël Guerreiro conduzia a bola com qualidade, ludibriando a tentativa de roubo contrária, em acções temerárias contrastantes com o estado de espírito global.
William “corava” nos momentos de ligação entre sectores e Renato Sanches, médio interior direito não acertava na entrega nem na união zonal faixa-centro. João Mário, desde a esquerda, interpretava melhor esse relacionamento espacial de ocupação pós-perda, mas faltou alguma verticalidade aos seus movimentos para explorar o adiantamento do lateral Sagna. Adrien foi quem mais pediu bola no pé, mas esteve muito lento a decidir (devolução ou remate).
A França entrou fortíssima no encontro. O seu 4x4x2 sentiu o “terror português” e avançou até encafuar o adversário nos últimos 30 metros. O domínio de jogo foi cedido aos franceses, a equipa lusa abdicou de identificar uma zona de pressão e limitou-se a um bloco baixo passivo que apenas respondia ao estímulo do choque com os “tanques azuis” (condução frenética queimando linhas do trio Sissoko, Pogba e Matuidi). As diagonais de Payet (esquerda-meio) combinavam com os movimentos entre-linhas de Griezmann e as aproximações de Giroud. De louvar as defesas de Rui Patrício, uma delas monumental, por permitirem que o colectivo não vergasse.
Ronaldo lesionou-se cedo, numa bola dividida, e aos 25 minutos foi substituído. Para o seu lugar entrou Quaresma e a equipa melhorou. Estruturada num 4x1x4x1, com o Mustang a ocupar o corredor direito “em cativeiro”, secando completamente as deambulações selváticas de Payet (saiu antes da hora de jogo). A armada lusa transfigurou-se sem o seu “D. Sebastião de chuteiras”, ganhou muita confiança, estabilizou psicologicamente e isso repercutiu-se ao nível técnico/táctico.
As linhas avançaram bastante (sem, no entanto, perderem a noção da primazia de ocupação dos espaços e controlo da profundidade). William ganhou preponderância ofensiva, pedindo bola para construir e as ligações com João Mário e Renato fluíram. A “asfixia táctica” fora debelada e Portugal passou a respirar com posse. Moutinho substituiu o pouco intenso Adrien e acentuou esta tónica. Com a sua exímia qualidade de passe permitiu uma harmonia perfeita entre todos os sectores, variou o centro de jogo possibilitando a largura (envolvendo os extremos e a subida dos laterais), foi cirúrgico na procura da verticalidade (tornando mais esclarecido e agressivo o jogo interior).
Depois foi “bíblico”. Saiu o craque sensação dos últimos jogos, Renato Sanches, para a entrada de Éder, o “diabo”, que grande parte da nação desprezava. Foi ele que resolveu o jogo com um fantástico remate de fora da área. Injustamente considerado como “figura menor”, anteriormente tido como dispensável a um grupo que perdia brilhantismo com a sua presença, foi o “farol” que guiou a “caravela” portuguesa. Analista de futebol