Depois de “dar o salto” nem todos caem de pé
Ter a oportunidade de representar um dos “grandes” portugueses é algo que nenhum futebolista quer deixar escapar. Há alguns casos de sucesso mas há muitos jogadores que nem chegam a deixar marca
Nas últimas cinco temporadas, mostram os dados recolhidos pelo PÚBLICO, foram 45 os futebolistas que “deram o salto”: jogadores que actuavam no futebol nacional e foram recrutados por uma das três equipas de topo. Excluíram-se desta análise futebolistas que, mesmo vivendo a primeira experiência num “grande”, chegaram do futebol estrangeiro; ou aqueles que voltaram a um “grande” após terem representado outras equipas (por exemplo, Josué, formado nos “dragões” e que regressou em 2013-14 após ter estado vinculado a outros clubes). Do universo analisado, há jogadores que chegam e afirmam-se de imediato. Outros precisam de algum tempo. E há vários que chegam para sair logo a seguir.
Do total de 45 jogadores, 17 mudaram-se para o Benfica, 16 para o FC Porto e 12 para o Sporting – e não é de excluir que os próximos dias tragam novidades, numa altura em que se aproxima o final do período de transferências de Inverno. Durante a temporada 2013-14 houve 12 futebolistas que chegaram aos “grandes”, com destaque para um quarteto que actuava junto às ordens de Marco Silva no Estoril. Carlos Eduardo e Licá assinaram pelo FC Porto, Steven Vitória rumou ao Benfica e Jefferson passou a vestir a camisola do Sporting. Passado um ano e meio, apenas o lateral esquerdo dos “leões” continua a ser opção regular. Os “azuis e brancos” cederam Carlos Eduardo ao Nice e Licá ao Rayo Vallecano. Em torno de Steven Vitória, contratado pelos “encarnados” até 2016-17, paira a dúvida: esta época não jogou sequer um minuto, e na anterior cumpriu apenas o tempo necessário para merecer o título de campeão, num jogo que já não decidia nada, para além de quatro participações nas Taças e sete partidas pela equipa B.
“A oportunidade só aparece uma vez na vida, há que aproveitá-la. Depois há o deslumbramento, alguns amedrontam-se com outras realidades, outros níveis de exigência... A qualidade, carácter e ambição dos jogadores é decisiva”, notou ao PÚBLICO o ex-treinador Octávio Machado, citando o exemplo de Bebé, recentemente emprestado pelo Benfica ao Córdoba: “Gostava que singrasse, tem potencialidades. Mas nunca tinha jogado em lado nenhum e já estava no Manchester United, com o rótulo de novo Ronaldo. Os empresários dão-lhes contratos, mas não lhes dão estabilidade, um futuro e uma carreira.”
O guarda-redes Ricardo, um dos heróis da Académica na vitória da Taça de Portugal 2011-12, foi dono indiscutível da baliza conimbricense durante duas épocas e chegou à Liga Europa. No início desta temporada rumou ao FC Porto, mas nunca fez parte das opções de Julen Lopetegui – até ao momento disputou apenas cinco jogos pela equipa B. “Não foi para isto que ele foi para o FC Porto nem foi para isto que os responsáveis do FC Porto o contrataram. A conjuntura alterou-se e não dava para voltar atrás”, admitiu ao PÚBLICO o representante de Ricardo, Amaro Valente, que no entanto rejeita que o guarda-redes se arrependa da mudança: “Naquela altura tomou a decisão correcta. Depois as coisas mudaram, mas uma pessoa nunca sabe. Foi conhecer outra realidade e tem condições de trabalho como nunca teve”, sublinhou o agente FIFA e responsável pela Footexpande.
Também há histórias de sucesso: um bom exemplo é Paulo Oliveira, que esta época trocou o V. Guimarães pelo Sporting e já é o “patrão” da defesa “leonina”. Lima brilhou ao serviço do Sp. Braga e afirmou-se imediatamente com a camisola do Benfica: em duas temporadas e meia já marcou mais de meia centena de golos. E Fabiano, após algum tempo na sombra de Helton, é agora o “dono” da baliza do FC Porto.