Prejuízo no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha pode atingir os 600 mil euros
Directora regional de Cultura do Centro diz que monumento deve abrir no espaço de um mês.
Um mês depois das inundações que submergiram parte do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, a directora regional de Cultura do Centro, Celeste Amaro, avançou com uma estimativa dos prejuízos, que pode ultrapassar o meio milhão de euros, e apontou para uma data provável de abertura ao público.
Aos jornalistas, no interior do monumento nacional que a 11 de Janeiro viu subir as águas do rio Mondego até cerca de cinco metros, Celeste Amaro disse nesta sexta-feira que o custo da recuperação está calculado entre 450 mil e 600 mil euros. “Há danos irreversíveis, há argamassas que vão cair, há rebocos antigos que vão cair”, afirmou a responsável. Assim, o valor preciso do restauro só poderá ser avaliado com o avanço das obras.
Estes trabalhos mais profundos serão feitos já com o velho edifício aberto ao público. Celeste Amaro avançou com a intenção de abrir o monumento situado na margem esquerda do Mondego num prazo de cerca de um mês, mal os trabalhos de limpeza estejam concluídos e permitam a entrada de visitantes “em condições de segurança”.
“O mosteiro precisa de gente tão breve quanto possível”, afirmou, explicando que, para iniciar o processo de reparação, o procedimento é mais demorado, uma vez que é necessária a abertura de um concurso público. Celeste Amaro mencionou que as verbas para levar a cabo estes trabalhos deverão ser obtidas através de fundos comunitários e que o processo “deverá levar algum tempo”, apesar de não apresentar um horizonte.
Num mês, a Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC), que tutela o equipamento que inclui um núcleo museológico e um centro interpretativo (não afectados pelas cheias), procedeu ao levantamento dos danos e à drenagem da água, operação essa que apenas ficou concluída no último fim-de-semana.
Tal como em Janeiro, Celeste Amaro voltou a referir as “descargas abruptas” da barragem explorada pela EDP como a principal causa pelas cheias sem paralelo desde que o espaço abriu ao público em 2009. No entanto, apesar de ainda não ter obtido resposta da empresa, prefere, para já, a via do diálogo.
A directora da DRCC informou que já pediu à administração da energética para ser recebida, tendo enviado para o efeito três emails, mas que ainda aguarda uma resposta. Instada pelos jornalistas a dizer se ponderaria accionar meios judiciais, Celeste Amaro disse que “tudo é possível”, mas que “a própria EDP, que tem uma fundação que funciona muito em termos culturais”, não “estará interessada” em ficar associada aos danos provocados no mosteiro com origem no século XIII.
A dirigente socorreu-se do exemplo desta sexta-feira, um “um dia em que há alerta laranja e numa semana em que esteve a chover quase sempre”, para sustentar a tese da responsabilidade da EDP. “Não tivessem sido as descargas abruptas feitas pela barragem da Aguieira, nunca este Mosteiro estaria inundado”, disse, referindo que, para os dias de maior pluviosidade, o espaço tem um sistema de quatro bombas para retirar a água que funcionou sempre ao longo dos sete anos.
No dia 11 de Janeiro, a água começou por entrar pelo sistema de águas pluviais e uma das portas do sistema que deveria proteger o velho edifício que se encontra abaixo da linha de água do Mondego cedeu com a “força das águas”, uma vez que não estava projectada para a sustentar, esclareceu a responsável.
A directora apontou para a necessidade de se repensar o sistema de protecção – que custou 6 milhões de euros dos 16 milhões investidos para recuperar o monumento - para que o mosteiro não volte ser inundado.
Relativamente aos danos causados pela inundação, para além das argamassas e rebocos, a directora da DRCC explica que os pontos a precisar de restauro não ficam por aí. Uma sala de risco, na parte de trás do edifício, tinha desenhos que “possivelmente serão irrecuperáveis” e uma zona estratigráfica (onde os arqueólogos fazem as escavações) “está completamente danificada”. No lado de fora, o claustro a céu aberto “foi o sítio mais danificado”, para além do piso cerâmico, também a precisar de recuperação.
Partes do pavimento em madeira “estão completamente irrecuperáveis” e há zonas “muito degradadas” onde “só os arqueólogos podem intervir”. Também a chamada “cozinha" do Mosteiro está "completamente escavada e tem de ser renovada".
O PÚBLICO tentou obter uma reacção da EDP, mas a energética optou por não comentar. Nos dias após as cheias, a empresa informou a imprensa que a exploração do sistema é feita em conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente, que tem a última palavra sobre os caudais.
Apesar de accionado o aviso laranja para este fim-de-semana para sete distritos, entre os quais Coimbra, Celeste Amaro diz ter a informação de que, o nível da barragem está atualmente entre 60% e 70%, quando no dia das descargas estava a 98%.