Música de câmara
Charlotte Rampling e Tom Courtenay são magníficos, num filme que é mais do que apenas os seus actores.
Um casal prepara-se para celebrar 45 anos de casamento e, de repente, o passado intromete-se com a chegada de uma carta inesperada. Não é preciso mais nado para o inglês Andrew Haigh assinar uma pequena pérola de câmara, que pega na tradicional reserva emocional britânica para a dissecar delicadamente: sim, tudo fica por dizer, mas nada fica por expressar graças a um trabalho notável de actores e de encenação. Charlotte Rampling e Tom Courtenay são ambos magníficos, instrumentos perfeitamente afinados e calibrados, extraordinariamente dirigidos por Haigh num filme que se ancora na melhor tradição do cinema britânico para a actualizar com um impacto emocional que lá por ser discreto não deixa de ser inescapável. E é a prova de que há uma nova geração de cineastas ingleses a emergir (Haigh, Andrea Arnold, John Maclean, Yann Demange...) que foge da formatação televisiva e merece maior atenção do que se lhe tem andado a dar.