Luís Filipe Castro Mendes: “Não sou um extraterrestre”
Em entrevista à RTP, o novo ministro da Cultura prometeu corresponder à "muita criatividade" que considera existir em todo o país.
“Não sou um extraterrestre” que chegou agora a Portugal, disse esta quarta-feira Luís Filipe Castro Mendes na sua primeira entrevista, concedida à RTP3, menos de uma semana após ter sido empossado como ministro da Cultura.
Entrevistado por Vítor Gonçalves, o ex-embaixador de Portugal no Conselho da Europa, em Estrasburgo, lembrou que apesar de ter vivido e trabalhado fora nos últimos anos, do Rio de Janeiro a Budapeste, de Luanda a Goa, sempre frequentou Portugal, e não apenas as suas grandes cidades.
Esse conhecimento do país levou o novo ministro – que nasceu em Idanha-a-Nova, em 1950 – a manifestar a convicção de que Portugal “está diferente, está a mexer, está a mudar, e há coisas muito interessantes que se estão a passar – há muita criatividade”.
Depois de voltar a referir que o telefonema que, no final da penúltima semana, recebeu de António Costa para substituir João Soares foi “uma surpresa”, e de que ocupar o novo cargo “não estava nos [seus] planos de vida”, Castro Mendes pouco avançou sobre medidas concretas que espera lançar durante o mandato. “Estou ainda a arrumar as gavetas”, disse à Grande Entrevista. Mas não fugiu a comentar as circunstâncias polémicas que ditaram a demissão do seu antecessor, de quem, de resto, se disse “muito amigo”. “Não vou julgar ninguém, mas a verdade é que todos nós temos de ter um especial cuidado com as palavras”, respondeu quando questionado sobre o episódio das “bofetadas”. E acrescentou, citando Ortega Y Gasset, entender também que “a liberdade de expressão é sempre condicionada pela circunstância”, tanto num cargo governamental como num posto diplomático, lembrando que ambos são actividades políticas.
Explicando que nunca foi militante de nenhum partido, mas normalmente votante no PS, Castro Mendes disse-se preparado para enfrentar as pressões que sabe que terá pela frente, considerando-as “normais”, tanto na Cultura como noutras áreas de actividade.
Evitando referir-se a medidas específicas, dado o escasso tempo que ainda tem no Palácio da Ajuda, o ministro da Cultura prometeu apostar na “aliança com o poder local, com a sociedade civil e com a juventude”, sem descurar o papel do Estado no apoio à criação, e aproximando-se dos cidadãos.
Consciente dos constrangimentos orçamentais do seu ministério, que são a expressão da situação geral do país, o entrevistado disse que irá começar por atalhar “as situações de ruptura”, sem, no entanto, as detalhar. “Vamos trabalhar utilizando os recursos que temos”, afirmou, acrescentando não o mover “uma lógica de reivindicação” mas de “execução orçamental”.
Medidas concretas, referiu apenas a importância de avançar com a criação do Cartão Cultural, que faz parte do programa do Governo; e de apostar na ligação do seu ministério com os da Economia, da Ciência e da Educação. Reafirmou a decisão do Governo de extinguir o projecto do Eixo Belém-Ajuda, que vinha do anterior executivo e levou inclusivamente ao afastamento de António Lamas da presidência do CCB: “Deve haver uma gestão integrada” dos pólos monumentais e patrimoniais dessa zona, numa articulação entre o Ministério da Cultura e a Câmara de Lisboa, mas sem essa ideia de “ter o CCB a centralizar” o processo. E confirmou também a apresentação, no Museu de Serralves, de uma exposição com a Colecção Miró.
Confrontado pelo jornalista com a questão levantada numa notícia do Jornal de Notícias sobre o facto de a sua promoção a embaixador estar ainda em tribunal, Castro Mendes explicou: “Sou embaixador desde 2003, nomeado pelo Governo do primeiro-ministro Durão Barroso”. E acrescentou que o caso citado diz respeito a um processo administrativo de promoções que resultou da queixa de um candidato que ficou de fora, mas que não põe em causa o seu estatuto diplomático de embaixador.
Na parte da entrevista mais virada para a sua vida como poeta, o autor de A Ilha dos Mortos (1991) – que considera ser o seu livro “mais importante” – disse que escreve “para responder com poemas às surpresas que o mundo [lhe] dá”.
E terminou elegendo como os livros da sua vida A Montanha Mágica, de Thomas Mann, e os Poemas, de Álvaro de Campos; Senso, de Visconti, como o filme; sendo As elegias de Duíno, de Rilke, o poema que gostaria de ter escrito.