Blocos abrem crowdfunding para pagar taxas do carnaval de rua em Lisboa

Página no GoFundMe pretende arrecadar € 13 mil para pagar metade das taxas de policiamento exigidas aos blocos. Reunião de cúpula entre Lula e Montenegro vai discutir o tema.

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O bloco Colombina Clandestina no bairro da Penha de França, em Lisboa Nuno Ferreira Santos
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Enquanto cidades como Sesimbra, Cascais e Braga, entre outras, apoiam o carnaval à brasileira, em Lisboa, a postura da Câmara Municipal tem sido completamente diferente. Além de não oferecer nenhum estímulo ao desfile dos blocos pela cidade, a administração da capital portuguesa tem exigido o pagamento de licenciamento, taxas de policiamento e aluguel de banheiros químicos em valores cada vez mais altos. Somente com a Polícia de Segurança Pública (PSP), a fatura fica em € 26 mil (R$ 161,2 mil).

Para ajudar a pagar a conta, a União de Blocos de Lisboa resolveu abrir uma página de crowdfunding no GoFundMe com o objetivo de arrecadar € 13 mil (R$ 80,6 mil), metade do valor cobrado para o policiamento. “Estamos falando da metade do que cobraram no ano passado. Ficou de fora o pagamento pelo corte do trânsito”, afirma a figurinista Karlla Tavares, do bloco Viemos do Egyto e vice-presidente da União de Blocos.

Segundo Karlla, o problema começou quando Lisboa deixou de considerar o carnaval de rua como manifestação cultural e passou a tratá-lo como evento. “Até 2020, éramos reconhecidos como manifestação cultural. Agora, nos tratam da mesma forma como tratam o Rock in Rio, que tem patrocínios e cobra bilhetes”, diz.

São várias as queixas de Karlla em relação à forma como os blocos são tratados na capital portuguesa. “A Câmara de Lisboa só tem criado empecilhos. Primeiro, quiseram que o carnaval fosse só um dia e há outros eventos dos quais não cobram nenhuma taxa”, afirma.

Lula e Montenegro

As reclamações dos carnavalescos lisboetas chegaram ao Palácio do Planalto. O tema será discutido na reunião de cúpula entre o presidente Lula e o primeiro-ministro Luís Montenegro, no dia 19 de fevereiro, durante a Cimeira Luso-Brasileira. A meta de Brasília é que o desfile dos blocos em Lisboa seja classificado como manifestação cultural. Para justificar essa classificação, o Governo brasileiro recorreu a pareceres jurídicos feitos a partir dos estatutos das escolas de samba do Rio de Janeiro.

A reunião de cúpula no Brasil provoca expectativa na União dos Blocos. “Estamos bastante ansiosos com o que vai sair desse encontro”, ressalta a especialista em políticas ambientais Bianca Mattos, também do Viemos do Egyto. “É preciso que nós tenhamos um tratamento adequado”, acrescenta.

Até a cimeira, a embaixada do Brasil vai procurar outros caminhos para resolver a questão. “O embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro, pediu uma reunião com a Câmara de Lisboa para tentar fazer com que voltemos a ser considerados como manifestação cultural”, diz Karlla.

A União dos Blocos reúne 14 grupos carnavalescos da cidade, que arrastam milhares de pessoas. “Tem bloco de samba, de axé, de maracatu, de música eletrônica. Tem o Blocu, de DJs. Nós, do Viemos do Egyto, só temos eletrônica”, explica Karlla.

Criadora do Viemos do Egyto, que chegava a reunir 25 mil pessoas no Rio e em São Paulo, Karlla trouxe o bloco para Lisboa quando emigrou, em 2020. “Nos primeiros anos, fazíamos apenas eventos fechados. Só saímos às ruas em 2024”, conta.

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