Depois de primeira tentativa falhada, Presidente deposto da Coreia do Sul é detido
Yoon concordou submeter-se a interrogatório para evitar “derramamento de sangue”, mas diz não reconhecer legalidade da investigação. Para já, está “a exercer o seu direito de permanecer em silêncio”.
O Presidente deposto da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, foi detido esta quarta-feira, quase um mês e meio após ter declarado lei marcial para proteger o país das “forças comunistas norte-coreanas” e para “eliminar elementos hostis ao Estado”. A detenção, acontecimento sem precedentes, é o culminar de seis semanas de crise política e jurídica numa das principais democracias do continente asiático.
No início de Janeiro, os serviços de segurança presidencial, responsáveis pela protecção do chefe de Estado, bloquearam uma primeira tentativa de executar o mandado de captura de Yoon. Na segunda incursão, as autoridades avisaram que deteriam qualquer pessoa que impedisse a detenção.
A equipa de investigação "executou um mandado de detenção contra o Presidente Yoon Suk-yeol às 10h33 [1h33 em Portugal]", declarou o Gabinete de Investigação de Corrupção para Altos Funcionários (CIO, na sigla em inglês), em comunicado. Mais de 3000 agentes do CIO e da polícia chegaram em força, antes de amanhecer, à residência presidencial, num bairro de Seul, onde o antigo procurador permanecia, sem sair, há semanas.
Numa mensagem de vídeo gravada antes de ser escoltado, Yoon disse que concordou submeter-se ao interrogatório para evitar "derramamento de sangue". "Decidi responder ao Gabinete de Investigação de Corrupção", anunciou Yoon, acrescentando que não reconhece a legalidade da investigação, mas que o fará "para evitar qualquer infeliz derramamento de sangue", afirmou na mensagem, gravada antes de as forças da ordem invadirem a residência presidencial.
Um procurador acompanhou Yoon desde a sua residência, numa zona nobre da capital sul-coreana conhecida como "Beverly Hills", até os austeros escritórios do CIO, onde entrou pelos fundos para evitar os jornalistas.
Yoon, que está a ser investigado por insurreição e abuso de poder, na sequência da declaração de lei marcial a 3 de Dezembro, é o primeiro Presidente sul-coreano em exercício a ser detido. Suspenso das suas funções pela Assembleia Nacional, o líder conservador tem-se recusado desde o início a prestar declarações sobre a declaração de lei marcial, o que levou os procuradores a emitirem um mandado de detenção.
Yoon pode permanecer sob custódia policial durante 48 horas, ao abrigo do actual mandado. Os investigadores terão de solicitar um novo mandado para prolongar a detenção. No entanto, Yoon continua a recusar-se a cooperar e não concordou que as entrevistas com os investigadores fossem gravadas em vídeo. Horas depois de o Presidente deposto ser detido, um responsável do CIO, disse que Yoon está “a exercer o seu direito de permanecer em silêncio”.
Os advogados de Yoon argumentam que o mandado de detenção é ilegal porque foi emitido por um tribunal na jurisdição errada e a equipa criada para investigá-lo não tinha competência legal para o fazer. Vários guardas presidenciais estão posicionados no andar do CIO onde Yoon está a ser interrogado, disse um funcionário do CIO, mas o Presidente deposto deverá ficar detido no Centro de Detenção de Seul, onde outras figuras importantes, incluindo a ex-Presidente Park Geun-hye e o presidente da Samsung Electronics, Jay Y. Lee, também passaram algum tempo. No cardápio desta noite, escreve a agência Reuters, haverá sopa de broto de feijão, carne grelhada e kimchi, um jantar que custará menos de um euro.
"Primeiro passo para regresso à ordem"
Para o líder dos deputados do Partido Democrático na Assembleia Nacional, a detenção é “o primeiro passo” para o regresso à ordem. “A detenção de Yoon Suk-yeol é o primeiro passo para o regresso à ordem constitucional, à democracia e ao Estado de direito”, declarou Park Chan-dae numa reunião da formação política maioritária no Parlamento.
Yoon provocou uma onda de choque na quarta maior economia da Ásia, ao anunciar, ao fim da noite de 3 de Dezembro, a imposição da lei marcial para ultrapassar o impasse político e erradicar as “forças antiestatais”. Em poucas horas, porém, 190 deputados desafiaram os militares e a polícia que faziam barreira junto ao Parlamento para votar contra a ordem de Yoon. Cerca de seis horas depois do seu decreto inicial, Yoon revogou-o, pressionado pelos deputados e por milhares de manifestantes.
Mas o Presidente defendeu a sua decisão, afirmando que os seus opositores políticos internos são simpatizantes da Coreia do Norte e citando alegações não corroboradas de manipulação eleitoral. Dois oficiais militares sul-coreanos, incluindo o chefe do Exército, Park An-su, nomeado comandante da lei marcial durante a declaração de curta duração, foram acusados e detidos por procuradores que investigam acusações de insurreição, noticiou a agência sul-coreana Yonhap. Com agências