Mondlane à procura de ser um Guaidó, mas com mais sucesso

No dia em que Daniel Chapo assumiu a presidência de Moçambique, Venâncio Mondlane veio reiterar que é ele o “Presidente eleito do povo” e diz que já falou com Chapo através de um amigo comum.

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Um apoiante de Venâncio Mondlane desafiando a polícia nesta quarta-feira ESTEVAO CHAVISSO / LUSA
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Venâncio Mondlane reiterou esta quarta-feira que foi eleito Presidente da República de Moçambique e dentro de dois dias irá mesmo apresentar “as medidas governativas para os primeiros 100 dias” da sua governação. No dia em que Daniel Chapo tomava posse como chefe de Estado, sucedendo a Filipe Nyusi no Palácio da Ponta Vermelha, Mondlane recorria como habitualmente ao Facebook para reclamar para si esse cargo, como “Presidente eleito pelo povo, de forma aberta e original”.

Numa decisão política que faz lembrar Juan Guaidó, o candidato da oposição venezuelana que chegou a ser reconhecido por muitos países como verdadeiro Presidente da Venezuela, Mondlane continua a insistir que foi ele e não Chapo o candidato mais votado nas eleições fraudulentas de 9 de Outubro.

"Tivemos uma tomada de posse do candidato nomeado pelo Conselho Constitucional, não o candidato eleito. Foi um teatro, um espectáculo de circo", disse, citado pela Lusa, sobre Chapo, que sucedeu a Filipe Nyusi, esta quarta-feira, numa “cerimónia fechada, triste, que fica na História pela negativa”, na opinião de Mondlane. “Já eu, quando tomei posse, em 9 de Janeiro [dia em que regressou a Moçambique após dois meses e meio fora do país por alegadas questões de segurança], foi num ambiente aberto, no aeroporto, próximo do povo", comparou.

Por falar em comparações, a “fábrica” de memes moçambicana já esta quarta-feira chamava plagiador a Chapo por andar a copiar ideias (e retórica) de Mondlane no seu discurso. O autoproclamado Presidente preferiu chamar-lhe “bom aluno” e disse à SIC que 95% das medidas apresentadas por Chapo no seu discurso foram defendidas por ele durante a campanha ou nas suas análises e comentários na televisão nos últimos dois anos.

Por exemplo, nesta passagem do discurso da tomada de posse: “Sei que muitos de nós sentem que os dirigentes estão distantes, inacessíveis e desligados das preocupações reais do povo. Isso vai mudar. Quem ocupar um cargo público terá de estar disponível para ouvir, servir e responder às preocupações do povo. Estamos aqui para servir e não nos servir. Quero deixar claro: quem exige ‘comissões’ para fazer o seu trabalho está a roubar o povo.”

Mondlane está em comunicação com Chapo através de um amigo comum, confidenciou o candidato presidencial esta quarta-feira ao New York Times em Maputo, esperando que o novo Presidente esteja mais aberto que o seu antecessor a negociar uma resolução para o conflito político criado pelo conturbado processo eleitoral de 9 de Outubro. E essa resolução tem de passar necessariamente pela reforma da Constituição e das instituições de Governo.

“Temos de dar ao povo alguma coisa muito crucial e algo tangível”, disse Mondlane ao jornal norte-americano. Nomeadamente, a construção de três milhões de casas para os mais pobres e criar um fundo de cinco mil milhões de dólares para startups lideradas por mulheres e jovens. “Não sei se todos os pontos que estão na minha proposta serão satisfeitos ou não, mas penso que iremos criar uma plataforma de diálogo.”

Na sexta-feira, às 15h locais (menos duas em Portugal continental), Mondlane irá anunciar as suas cem medidas de governo e garantiu na sua live desta quarta-feira que são para serem cumpridas, tanto pelo sector público como pelo sector privado, e até por Daniel Chapo. Sobre como irá implementar essas medidas e fiscalizar a sua posta em prática, o candidato presidencial não disse, mas garantiu que os moçambicanos “que estão na rua desde segunda-feira” estão “determinados a impor a verdade do Moçambique original”.

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