Piadas online levam TF1 a retirar entrevista a mulher que se apaixonou por falso Brad Pitt

A mulher contou ter sido vítima de burla: durante mais de um ano acreditou estar em contacto com Brad Pitt e perdeu as poupanças. Onda de escárnio contra vítima leva canal a apagar testemunho.

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Brad Pitt durante as filmagens de F1, no Autódromo Hermanos Rodriguez, México Raquel Cunha/REUTERS
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O canal de televisão francês TF1 decidiu retirar de todas as suas plataformas a entrevista a uma mulher que se identificou como vítima de burla de alguém que se fez passar pelo actor Brad Pitt.

A decisão surgiu depois de uma onda de escárnio contra a testemunha, que, por causa da fraude, chegou a ser internada com uma grave depressão. Entre várias piadas online, destacaram-se algumas publicadas por organismos: o Toulouse Football Club escreveu no X “Brad disse-nos que estaria no estádio na quarta-feira” (posteriormente, apagou a publicação e pediu desculpas), enquanto a Netflix aproveitou a maré para anunciar “quatro filmes para ver com Brad Pitt (a sério) de graça”.

“Para protecção das vítimas, decidimos retirar [o segmento] das nossas plataformas”, informou a TF1.

Durante mais de um ano, a decoradora de interiores Anne, de 53 anos, acreditou ter uma relação amorosa com o actor Brad Pitt. Só que, na realidade, tratava-se de um esquema, que, recorrendo à inteligência artificial, conseguiu enganá-la a ponto de ter perdido todas as suas poupanças

Segundo relatou a própria ao programa Seven to Eight do canal TF1, tudo começou em Fevereiro de 2023, quando Anne partilhou no Instagram fotografias de umas férias de esqui nos Alpes franceses. A mulher, casada com um empresário rico, quase imediatamente foi contactada por alguém que se apresentou como Jane Pitt, a mãe do actor, que lhe terá dito que a via como um bom partido para o filho. Pouco tempo depois, foi contactada por alguém que se passou pelo próprio actor. “Gostaria de saber mais sobre ti”, escreveu a Anne.

Ao longo de ano e meio, Anne passou a trocar mensagens com alguém que acreditava ser Brad Pitt. Do outro lado, o burlão recorreu a contas falsas nas redes sociais e no WhatsApp, bem como à inteligência artificial para lhe enviar o que pareciam ser selfies — e até chegou a partilhar uma imagem do passaporte de Pitt.

“Eu estava apaixonada pelo homem com quem estava a conversar”, admitiu Anne. E, quando lhe foi dito que Pitt precisava de dinheiro para um tratamento médico, já que todas as suas contas estavam congeladas por causa do processo de divórcio de Angelina Jolie, ela não pensou duas vezes: no total, transferiu 830 mil euros.

A designer só se aperceberia do esquema quando os meios de comunicação social publicaram fotografias de Pitt com a sua namorada, Inés de Ramon, no último Verão, embora a relação romântica entre o actor e a vice-presidente da marca de jóias Anita Ko já seja conhecida desde finais de 2022​. “Pergunto-me porque é que me escolheram para fazer um mal como este”, disse Anne à TF1. “Nunca fiz mal a ninguém. Estas pessoas merecem o inferno.”

O sucesso dos falsos Pitt

O caso da francesa não é inédito. Em Espanha, em Setembro, cinco pessoas foram detidas por se fazerem passar por Brad Pitt e enganarem mulheres.

O primeiro caso detectado em Espanha de um falso Brad Pitt remonta a meados de 2023: uma mulher de Granada foi seduzida por um perfil falso do actor e burlada em 170 mil euros. De acordo com as autoridades espanholas, após o primeiro crime, foram identificadas outras duas mulheres enganadas, mas por outro falso Brad Pitt. Uma, também de Granada, foi burlada em 175 mil euros; outra, de Biscaia, em 150 mil. Os casos, referiu na altura a Guardia Civil, não estão relacionados.

Nos esquemas espanhóis, os suspeitos entravam em contacto com as mulheres através de uma página na Internet para fãs do actor. Depois, levavam-nas a acreditar que “tinham uma relação sentimental com ele”, facilitando o esquema de burla, que passava por convencê-las a investir em projectos que não existiam. O dinheiro era transferido para contas bancárias legais, cujos titulares, a troco de dinheiro, posteriormente passavam para outras contas bancárias, todas elas abertas com documentação falsa.

De acordo com a Guardia Civil, os cibercriminosos seleccionavam as suas vítimas depois de estudarem os seus perfis nas redes sociais, escolhendo mulheres que, além de aparentarem serem detentoras de um valor patrimonial considerável, mostravam ser “vulneráveis, com carências afectivas e em estado depressivo”.

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