Como dizer “não” a um colega que se quer encontrar fora do horário de trabalho

Mesmo que seja do meu feitio ser amigável com os meus colegas, não o faço fora do trabalho — e preocupa-me que o facto de ser amigável tenha passado a mensagem errada. Como posso lidar com a situação?

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O colega de trabalho interpretou mal a tua simpatia — este é um problema do receptor, não do emissor Matilde Fieschi
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Troquei números de telefone com o meu colega, que é 18 anos mais velho, para facilitar o contacto entre nós por motivos profissionais. O nosso local de trabalho é bastante informal e, na verdade, só interagimos algumas semanas por ano.

Desde então — não com muita frequência, mas do nada, depois de semanas sem contacto – ele tem pedido para falar comigo fora do trabalho. Até se ofereceu para me levar ao seu café preferido. Embora seja do meu feitio ser amigável com os meus colegas de trabalho, não o faço fora do trabalho. Neste caso, preocupa-me que o facto de ser amigável tenha passado a mensagem errada.

Nenhum de nós reporta ao outro ou pode afectar as avaliações de desempenho um do outro, embora eu tenha um encargo superior ao dele e trabalhe na empresa há mais tempo.

Até agora, tenho ignorado as suas mensagens, mas sei que provavelmente terei de o voltar a ver em breve, a menos que mude de emprego nos próximos meses. Como é que posso lidar com isto sem tornar as coisas embaraçosas ou agravar a situação?


Permita-me que a esclareça de uma forma clara: não “enviou a mensagem errada” ao ser simpática com um colega de trabalho. Ele interpretou mal a sua simpatia. Este é um problema do receptor, não do emissor. Estou a dizer isto como alguém que deixou que o pensamento positivo a levasse a interpretar mal a simpatia como um interesse: A culpa não é sua.

A culpa não é sua. Está bem? Não é culpa sua.

E só para o caso de estar a questionar o seu procedimento: Independentemente de o seu colega ser solitário, não ter noção ou ser socialmente inapto, o seu interesse unilateral em conhecê-la melhor fora de horas não a obriga a permiti-lo. Por defeito, o pressuposto deve ser que está na empresa para trabalhar, não para expandir o seu círculo social. E, na eventualidade de ele estar apenas à espera de obter ajuda para estabelecer contactos ou para ser promovido, deve começar por esclarecê-la e estar disposto a contentar-se com uma conversa telefónica ou um café no escritório.

Mas se o seu colega está a concentrar-se no seu café favorito e a guardar as suas intenções para si próprio... Passe.

Não me interprete mal: é óptimo quando os colegas de trabalho desenvolvem amizades fora do trabalho, ou mesmo quando essas amizades se transformam mutuamente numa ligação amorosa saudável. Mas alguém quase duas décadas mais velho já teve a oportunidade de aprender que um convite sem resposta significa que a leitora não está interessada ou que não está disponível, e que ele deve mudar para o modo “apenas colegas de trabalho”.

Partindo do pressuposto mais caridoso de que o seu colega não tem essa experiência social ou capacidade de ler nas entrelinhas, seria uma gentileza que lhe pouparia tempo responder-lhe, no seu estilo amigável, com uma frase directa e inequívoca: “Obrigada pelo convite, mas não estou interessada.”

Poderá sentir-se tentada a completar a frase com uma explicação, mas isso pode levar a complicações. “Prefiro manter a minha vida profissional e pessoal separadas” só funciona se souber que ele não a vai ver a socializar com outros colegas de trabalho. “Prefiro manter a nossa relação profissional” pode levar a protestos de que se trata apenas de um café e que não deve presumir que ele quer algo mais. Outras justificações, como “Estou muito ocupada de momento”, apenas prolongam a esperança de que possa estar interessada quando as circunstâncias mudarem. Não se deixe encurralar.

Da próxima vez que trabalharem juntos, seja exactamente tão amigável como sempre foi, porque essa é a sua personalidade. Se as coisas se tornarem estranhas, a culpa é dele.

Entretanto, talvez seja sensato guardar cópias das mensagens não relacionadas com o trabalho e manter um registo das datas e horas em que ele a contacta para assuntos não profissionais. Se o seu colega se tornar mais persistente ou mudar a forma como interage consigo no trabalho para um nível desconfortável, terá provas para validar as suas preocupações quando falar com o seu chefe ou com os recursos humanos — o que, mais uma vez, não será por ter agravado a situação, mas porque ele o fez.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Sara Lima Sousa Edição: Bárbara Wong

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