Regresso de Trump deixa aliados ansiosos e Sul Global optimista
Sondagem do ECFR em vários países mostra divergências profundas na avaliação da nova Administração norte-americana. Todos acreditam que a China será maior potência nas próximas décadas.
O regresso de Donald Trump à Casa Branca é visto pelos tradicionais aliados dos EUA como uma má notícia, mas é olhado com bons olhos por grande parte do resto do mundo, onde se acredita que o republicano poderá ajudar a resolver alguns dos principais conflitos globais.
Uma Europa “ansiosa” e o resto do mundo “optimista” face ao início da nova era de Trump como Presidente dos EUA. É desta forma que se podem resumir as principais conclusões de uma sondagem realizada pelo European Council on Foreign Relations (ECFR) divulgada nesta quarta-feira, em que se pretende perceber como é que a opinião pública global encara os próximos tempos da política mundial.
As perspectivas em relação à Presidência Trump – prestes a iniciar-se – diferem radicalmente entre os países ocidentais e os do chamado "Sul Global". Nos onze países da União Europeia (incluindo Portugal) seleccionados para o inquérito, no Reino Unido, na Coreia do Sul e na Suíça, são mais aqueles que acreditam que a nova Administração norte-americana terá um impacto negativo para os seus países do que o contrário.
O pessimismo dos aliados tradicionais de Washington está ligado às dúvidas que Trump tem alimentado sobre o futuro da NATO. O Presidente eleito dos EUA tem multiplicado os avisos de que o compromisso norte-americano com a cláusula de defesa colectiva dos restantes Estados-membros está dependente do aumento das contribuições com a defesa pelos países europeus.
Ao mesmo tempo, Trump tem feito ameaças inéditas a países da Aliança Atlântica, como aconteceu com a Dinamarca a propósito das ambições dos EUA sobre a Gronelândia.
Entre os inquiridos de países como a Índia, Arábia Saudita, Rússia, China ou Brasil, o optimismo em relação ao regresso de Trump à Casa Branca impera e, em certos casos, como na Índia, a diferença é esmagadora (84% dos indianos acredita que a eleição de Trump é uma boa notícia para o seu país).
A mesma divisão mantém-se quando os inquiridos são questionados sobre as perspectivas que a eleição de Trump traz para a paz no mundo. No Sul Global, a expectativa é a de que o futuro Presidente norte-americano tenha um impacto positivo, enquanto nos países ocidentais são mais os que antecipam um efeito nefasto.
Os ucranianos mostram-se divididos quando questionados sobre se Trump poderá trazer paz ao seu país, quase três anos depois de a Rússia ter lançado uma ofensiva em larga escala: 39% esperam que o novo Presidente dos EUA ajude a resolver o conflito, enquanto 35% não acreditam que isso possa acontecer.
“A Europa está bastante sozinha na sua ansiedade sobre o regresso de Trump à Casa Branca”, afirma o director do Centre for Liberal Strategies e um dos autores do estudo, Ivan Krastev, considerando que os países europeus enfrentam uma “encruzilhada” no que respeita o rumo das relações com Washington no curto prazo.
Segundo Mark Leonard, o outro co-autor do inquérito, “em vez de tentarem liderar uma resistência global a Trump, os europeus devem tomar responsabilidade pelos seus próprios interesses – e encontrar formas de construir novas relações num mundo mais transaccional”.
De uma forma geral, há uma expectativa de que a influência dos EUA no mundo aumente na próxima década, embora essa ideia seja mais forte no Sul Global, em países como a Índia, África do Sul, Brasil e Arábia Saudita. A excepção é a Rússia, onde apenas 22% acreditam que o poder norte-americano no mundo irá aumentar, enquanto 29% esperam uma diminuição.
No entanto, apesar de anteciparem o crescimento do poder dos EUA, na maioria dos países prevê-se que a China se torne a principal potência mundial ao longo dos próximos 20 anos – até nos próprios EUA há uma divisão perfeita, entre 41% que consideram que isso poderá acontecer e a mesma quantidade que afasta esse cenário.
Na grande maioria dos países também persiste a expectativa de que a UE terá mais poder ao longo da próxima década (a excepção é a Rússia, onde apenas 37% acreditam nesse cenário) e em quase todos Bruxelas é visto como um aliado ou um parceiro estratégico.