Ucranianos cada vez menos convictos de uma vitória na guerra

Sondagem do ECFR mostra que a opção por um acordo negociado com Moscovo para acabar com a guerra é defendida com cada vez mais intensidade na Ucrânia. Mas não há consenso sobre que tipo de acordo.

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Volodymyr Zelensky tem rejeitado entrar de imediato em negociações com a Rússia PAOLO GIANDOTTI/QUIRINAL PALACE PRESS OFFICE HANDOUT / EPA
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O optimismo entre os ucranianos em relação ao desfecho da guerra com a Rússia parece estar a recuar. A sondagem do European Council on Foreign Relations (ECFR) divulgada esta terça-feira à noite mostra que o número de ucranianos que acreditava que o seu país iria vencer o conflito caiu abruptamente e a ideia de que será necessário um acordo com Moscovo está a ganhar terreno.

Se em Maio do ano passado eram 58% os que acreditavam numa vitória ucraniana, no final do ano eram apenas 34% os que ainda diziam esperar esse desfecho, segundo a sondagem. A maioria dos ucranianos (47%) diz esperar que seja um acordo entre os dois países a pôr fim ao conflito que está prestes a entrar no quarto ano.

No entanto, o conteúdo de um potencial acordo com Moscovo não é consensual entre a população ucraniana. Desistir de combater para recuperar os territórios ocupados, por exemplo a troco de adesão à NATO e à União Europeia, é um cenário rejeitado pela maioria dos inquiridos, embora por curta margem se for garantida a integração nos dois blocos.

No quadro das concessões que Kiev poderá ter de ser obrigada a fazer, a que reúne mais apoio é a que contempla a recuperação de todos os territórios ocupados pela Rússia, mesmo que isso impeça uma futura adesão à NATO, mas deixe aberta a porta da UE – apenas 26% rejeitam esta fórmula.

Fora da Ucrânia, e de acordo com a mesma sondagem, o cenário de um acordo é também visto como o cenário mais provável – apenas entre os russos há quem acredite mais numa vitória militar da Rússia (48%) do que num acordo (39%). Mesmo na China, um dos principais aliados de Moscovo, são mais os que acreditam que terá de ser alcançada uma solução diplomática (46%) do que um triunfo militar russo (38%).

Sobre o curso de acção que deve ser tomado, nos EUA são mais os que acham que a Ucrânia deve ser pressionada a assinar um acordo com a Rússia (42%) do que os que defendem a continuidade do apoio até que os territórios ocupados sejam recuperados (37%). E entre os que optam pelas negociações imediatas, mais de 60% quer que seja garantida a Kiev a adesão à NATO.

O Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, tem afirmado que quer pôr fim rapidamente ao envio de ajuda militar e financeira para a Ucrânia e tem garantido que tem capacidade para mediar um fim rápido para o conflito. As autoridades ucranianas temem, contudo, que a entrada em negociações imediatas com a Rússia sirva apenas para dar legitimidade às ocupações territoriais.

Entre os onze países da UE que participaram no estudo (incluindo Portugal), apenas 27% apoiam a continuação do envio de ajuda militar e financeira à Ucrânia até que os seus objectivos militares sejam alcançados.

No que respeita à forma como a responsabilidade pelo conflito se reparte, apenas russos e chineses apontam o dedo de forma mais expressiva à Ucrânia (48% e 37%, respectivamente), enquanto na Indonésia 36% dizem que ambos têm o mesmo grau de responsabilidade.

Nos restantes países participantes no inquérito, a responsabilidade pela guerra em curso é atribuída à Rússia, embora em graus diferentes, variando entre os 70% de ucranianos que consideram que a Rússia é a única responsável até à Arábia Saudita onde apenas 14% defende esta ideia (mas 31% dizem que há responsabilidades partilhadas, mas que a Rússia é mais responsável).

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