Fotogaleria

Eles levantam-se de madrugada para trabalhar — e fazer o mundo girar

Enquanto a maioria dorme, eles já estão de pé, a caminho dos seus empregos ou já em funções. Em Lisboa, ao nascer do Sol, Bruno Batista e Iara Rodrigues retrataram estes “heróis do quotidiano”.

Sondinha Barreto, jardineira, 65 anos. "Que trabalho bom foi o meu, sempre ao ar livre, no meio das árvores e dos passarinhos." ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
Fotogaleria
Sondinha Barreto, jardineira, 65 anos. "Que trabalho bom foi o meu, sempre ao ar livre, no meio das árvores e dos passarinhos." ©Bruno Batista & Iara Rodrigues

Junto aos bairros municipais da Alta Lisboa, ainda de madrugada, são muitas as pessoas que já se encontram nas paragens de autocarro a caminho do seu local de trabalho. Os fotógrafos Bruno Batista e Iara Rodrigues conheceram alguns desses trabalhadores matutinos e, a convite da Gebalis, fizeram os seus retratos para o projecto “Quando a Cidade Dorme…”, que se encontra, até 19 de Janeiro, em exposição no Palácio Marquês do Alegrete, na freguesia de Santa Clara, Lisboa.

Sondinha Barreto, de 65 anos, foi fotografada ainda de noite, entre o nevoeiro, antes de dar início às suas funções como jardineira. Contou a Bruno e Iara que aprecia o contacto com a natureza, que gosta do seu trabalho. Paula Silva é empregada de limpeza. “O meu trabalho tem a mesma dignidade do que o dos doutores”, contou à dupla de fotógrafos. “Todos fazemos falta”, afirma.

Há, entre os retratados, uma ajudante de cozinha, uma vendedora ambulante, uma enfermeira, um assistente administrativo (apresentados nas legendas das imagens desta fotogaleria). “Cada pessoa tem a sua história individual espectacular”, contou ao P3 um dos fotógrafos, Bruno Baptista, via email. Todas partilharam com a dupla “os sacrifícios, os medos, os receios as dificuldades diárias” inerentes aos seus trabalhos, mas sempre “com orgulho”. A maioria das pessoas entrevistadas referiu dificuldades na gestão dos seus horários laborais com os transportes públicos e desconforto ao enfrentar as chuvas, no Inverno.

“A sua determinação e trabalho beneficiam a comunidade como um todo, mas, apesar disso, são pessoas e trabalhos que permanecem em grande parte invisíveis”, lê-se na folha de sala da exposição. Os fotógrafos e a Gebalis procuram, com o projecto, “fazer um reconhecimento simbólico da importância [destes trabalhadores] para a cidade”. “São os nossos heróis do quotidiano.”

Esses “heróis”, conta Iara ao P3, foram convidados, especificamente, para integrar o projecto. “Poder conversar com as pessoas e perceber o seu esforço foi muito impactante e muito bonito”, refere a fotógrafa, por escrito. Bruno partilha da opinião de Iara. Considera que conhecer aquelas dez pessoas “foi uma inspiração”. “Elas são mesmo super-heróis”, sublinhou. “Todos precisamos mesmo de todas elas.”

Maria Augusta Aguiar, despenseira, 53 anos. "Adoro o meu trabalho, é a minha vida, vivo para servir o outro!"
Maria Augusta Aguiar, despenseira, 53 anos. "Adoro o meu trabalho, é a minha vida, vivo para servir o outro!" ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
Paula Silva, empregada de limpeza e empregada doméstica, 53 anos. "O meu trabalho tem a mesma dignidade do que o dos doutores. Todos fazemos a nossa parte. Todos fazemos falta…"
Paula Silva, empregada de limpeza e empregada doméstica, 53 anos. "O meu trabalho tem a mesma dignidade do que o dos doutores. Todos fazemos a nossa parte. Todos fazemos falta…" ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
Vítor Marques, assistente administrativo, 28 anos. "A universidade é cara, a minha mãe é sozinha, não me sentiria bem se não comparticipasse nas despesas da casa."
Vítor Marques, assistente administrativo, 28 anos. "A universidade é cara, a minha mãe é sozinha, não me sentiria bem se não comparticipasse nas despesas da casa." ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
Paulo Pais, empregado de limpeza, 43 anos. "Acho que é preciso muita força de vontade em ir para o trabalho quando todos os outros estão a dormir."
Paulo Pais, empregado de limpeza, 43 anos. "Acho que é preciso muita força de vontade em ir para o trabalho quando todos os outros estão a dormir." ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
Cláudio Fernandes, encarregado de limpeza, 33 anos. "Há quem tenha interesse em andarmos todos desavindos. Mas o que é preciso é unir, não separar…"
Cláudio Fernandes, encarregado de limpeza, 33 anos. "Há quem tenha interesse em andarmos todos desavindos. Mas o que é preciso é unir, não separar…" ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
À direita, Ana Maria Marques, empregada de limpeza, 76 anos. "Não me tirem, por favor, o meu trabalho. Parar é morrer!" À esquerda, Maria Conceição Veiga, ajudante de cozinha, 40 anos. "Nunca desço a encosta sozinha, tenho medo, vou sempre com uma vizinha."
À direita, Ana Maria Marques, empregada de limpeza, 76 anos. "Não me tirem, por favor, o meu trabalho. Parar é morrer!" À esquerda, Maria Conceição Veiga, ajudante de cozinha, 40 anos. "Nunca desço a encosta sozinha, tenho medo, vou sempre com uma vizinha." ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
Tânia Carvalho, enfermeira, 46 anos. "Nós, são-tomenses, temos uma expressão que é um lema de vida: “leve, leve”. Leve, leve, chegamos lá…"
Tânia Carvalho, enfermeira, 46 anos. "Nós, são-tomenses, temos uma expressão que é um lema de vida: “leve, leve”. Leve, leve, chegamos lá…" ©Bruno Batista & Iara Rodrigues
Matilde Rufo, filha de vendedores ambulantes, 15 anos. "O âmago da nossa cultura tendeira sobreviverá sempre: o sentido de família, o amor à liberdade."
Matilde Rufo, filha de vendedores ambulantes, 15 anos. "O âmago da nossa cultura tendeira sobreviverá sempre: o sentido de família, o amor à liberdade." ©Bruno Batista & Iara Rodrigues